terça-feira, 10 de setembro de 2019

Tempos livres - De Pedrogão a Álvaro, antes dos fogos

Resultado de imagem para Entre pedrogão e alvaro a naturezaNum dia pouco calorento, com nuvens ameaçadoras de escuro, mas com algumas abertas entre as mesmas, decidimos sair cedo para fazermos um passeio pedestre visitando a Ponte Filipina construída em 1610 e que até 1954 foi a única ligação entre Pedrógão Pequeno e Pedrógão Grande.

Eis que o tempo ameaçador se tornou realidade com a presença de aguaceiros frequentes o que nos levou a repensar o passeio.

Após uma visita curta ao pontão da Barragem do Cabril, com alguma ataxia provocada pela visão dos 136 metros de altura, fomos visitar a ilha que se consegue atualmente contornar de carro. Parámos na mesma para vislumbrar a magnifica paisagem que a mesma nos permite, nomeadamente a beleza das margens evidenciando a imponência nos seus limites.

Aí se decidiu pelo passeio alternativo. Passámos ao lado do restaurante Lago Verde, regressámos a Pedrogão Pequeno e iniciámos uma rota que não conhecíamos, pelo que fomos para uma aventura diferente.

E tão diferente que foi que através de estradas “terciárias” (só não eram de terra batida), andámos perdidos entre Roqueiro e Arrochela. Pedimos ajuda a uma senhora idosa e qual não foi o nosso espanto que com grande clareza e mesmo iniciativa trilhou-nos o caminho a percorrer e com tanta clareza que nem o nosso GPS conseguiu fazer melhor (aliás foi um instrumento nesta altura desconcertante pois até para dentro da barragem nos queria indicar, talvez caminho subterrâneo a relembrar o túnel da Mancha…).

Imagens magnificas e inesquecíveis sobre o rio Zêzere, na visualização dos seus contornos e curvas, a sua coloração verde azulada, margens delicadas, mas ainda selvagens, felizmente com um caudal que mais o ostentava.

Passámos Madeirã e em algures, perdido no campo, numa pequena aldeia que mais parecia um monte, numa pequena tasca fomos agraciados com uma sandes de bom presunto acompanhado de vinho caseiro, que complementou as nossas forças para continuarmos a nossa etapa em direção à aldeia de xisto denominada Álvaro.

Terra que não destoa desta lânguida e serpenteante viagem, sita num alto, onde se observa uma paisagem magistral envolvente. Povoação com ligações antigas a várias ordens religiosas que ainda hoje marcam a sua presença com a arte sacra, a pintura, nas suas capelas e a sua Igreja principal.

Regressámos felizes por um passeio de uma beleza redundante, desde o rio à natureza  envolvente, impregnada de árvores, algumas de dimensão impressionante, que mais pareciam ser sombras “espirituais” na envolvência da água.

Toda uma paisagem colorida, reluzente, digna de uma zona algo virgem e natural;

Ainda não tinham aparecido os fogos mortíferos que transformaram esta zona num negro atroz, cruel e desapiedado!



terça-feira, 20 de agosto de 2019

Reflexões de Médico - O Médico "Desfardado"


Resultado de imagem para o médico desfardadoA propósito de uma memória descritiva relativamente ao facto de um médico ter sido impedido de entrar num determinado serviço de urgência como acompanhante de um familiar e que terá levantado alguma celeuma nos meios sociais ligados aos próprios médicos.


Há algumas décadas um médico que se apresentasse nas condições atrás descritas, seria impensável e inconcebível ser impedido de entrar num serviço hospitalar que respeita ao exercício das suas funções direta ou indiretamente, nomeadamente por um segurança, ou administrativo ou enfermeiro.

Pelo contrário;

A deferência era sem dúvida diferente, havendo respeito mútuo, levando a própria cortesia ao ponto do médico ser acompanhado e apresentado ao colega escalado, convidando este próprio à sua integração na equipa presente para avaliar o doente familiar.

A troca de impressão clínicas;

A discussão de outros assuntos relacionados com a profissão, técnicos ou não, a desumanidade nos espaços impróprios pela sua dimensão ou instalação e como resolvê-los ou remediá-los, já o próprio Fernando Namora foi bem descritivo nesse sentido.

Um decoro de responsabilidade e apreço pelo próprio médico como ser e como profissional numa sociedade em que o mesmo era respeitado de maneira diferente da atual, sem dúvida com alguns privilégios que poderiam ser algo exagerados, mas com uma presença na sociedade demonstrativo da sua importância na cura, recuperação ou minimização das dores ou sofrimentos mentais ou físicos difundidos na sociedade em geral, tal como também na sua posição, integrante da sociedade social e politica, com peso consultivo e muitas vezes decisivo.

Houve sem dúvida uma evolução da individualidade, que amenizou ao longo dos anos a supremacia reconhecida aos médicos, individualidade essa que não é alheia a própria classe médica, dividida entre si no que é ser médico integrante no contexto intrapar, com o devido respeito entre os próprios nas suas várias gerações e entre uns e outros e finalmente como reagir à sua própria integração na sociedade atual!

Tudo pode estar relacionado com cansaço na evolução (ou involução) das políticas de saúde, tal como o médico dever ser para a sociedade “um objeto” que só servirá, segundo aqueles, para manter equilibrados os orçamentos das políticas inadequadas ou combater os contratos programas desajustados ou desapropriados, ou na altura da necessidade de terem de recorrer aos cuidados de saúde, entregando-se temporariamente na mão dos médicos.

Não se unam que não vale a pena!


E é pena que assim seja e assim estejamos… 

quinta-feira, 8 de agosto de 2019

Humor - A Charrete poderá vir aí de novo!


Imagem relacionada A Charrete poderá vir aí de novo!

A iminente falta de combustível a partir do dia 12 de Agosto, leva-nos a ponderar alternativas à longa espera que se avizinha nas bombas de gasolina, seja pelos serviços mínimos ou máximos já que com grande confusão ninguém se vai entender num país democrático (será que é isto um país democrático?).

A opção da Charrete, que por aí existem muitas, sejam em grandes garagens sujas de pó (não a Charrete que se encontra limpa) ou nos muitos Museus espalhados por este país fora, (aí sim, limpos por falta de visitantes), é uma das mais válidas para o nosso século, nomeadamente num século tão impoluto (como diz Trump), como eram os séculos passados (com excepção do XX).

A poupança será tremenda, ainda mais quando movidas por tração humana (em cuidando a necessidade de calorias, podendo os supermercados estarem desprovidos de tais substancias), ou então ainda maior quando impelidas por animais não humanos como os cavalos, burros (cuidado com estes) ou até mesmo os bois (sugere-se a sua utilização se não se gostar de touradas).

Não se esqueçam de apurar o estado das canas de pesca e do engodo, que o facto dos animais terem de ter períodos por vezes longos de repouso, prevê-se a duração das viagens, se por exemplo se for até ao Algarve, necessidade que poderá levar a pescar umas carpas ou achigãs perdidos por barragens ou albufeiras que não tenham sofrido a evolução com a presença do ser humano como exemplo a existência dos siluros, seres manipulados pelas mesmas mãos que manusearam levando a invenção daquelas “coisas” que se chamam carros (ou automóveis).

Assim irão ter umas boas férias, que eu também vos desejo.

segunda-feira, 5 de agosto de 2019

Reflexões de Médico - A Solidão nos Hospitais

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Estar doente é como que viajar de comboio através  de  uma  rota  com  um  trajecto  extenso, caminhos muitas vezes tortuosos e/ou sinuosos, com curvas apertadas que fazem os mesmos ficar nauseados, enjoados e por vezes agoniados.


Felizmente que nesse percurso se encontram paisagens paradisíacas, apesar da velocidade e da rapidez do comboio, que pode ultrapassar a nossa possibilidade visual de acompanhamento, momentos únicos que se devem aproveitar, na esperança que possamos visualizar o limite que a emoção pode na prática permitir.

O compartimento é pequeno; acaba por tornar a viagem não só tortuosa como também atribulada, através dos carris ou trilhos previamente dispostos manualmente, sob a força da violência e a vigilância das armas, troços que deixam imagens que não se vêem por serem doutra época, mas que o nosso cérebro consegue imaginar como se fosse ontem que tivessem sido fotografadas.


Estar internado por doença é poder esquecer as saudades de algo, não conseguir perguntar muito, viver numa sociedade diferente, com regras diferentes e prioridades distintas daquilo que é o hábito na presença da colectividade global.

O doente sente estar entregue a si mesmo, tão só, embora intensamente acompanhado, tão perdido numa solidão que não é a sua, sem um nome porque passou a ser o número da cama, despido porque não tem os seus objectos pessoais, num palco de movimentos e ritmos atentos, mas de rigor absoluto desde o trabalho e a avaliação, cuidadosa e vigilante dos profissionais, às análises que são efectuadas regularmente, às máquinas que medem, avaliam e tudo controlam.

Apesar da inquietação, apesar do dever acreditar que a medicina evoluiu muito, apesar do dia ser breve embora longo, apesar de saber que o dia tem 24 horas não percepcionando a hora aproximada do ciclo circadiano, ouve-se o barulho envolvente, os comentários da certeza ou da incerteza, os assuntos de discussão do dia a dia, da crença ou da descrença, que leva a saber que afinal ainda vive num mundo real, embora diferente.

Revisita-se a si próprio; sabe que vai sobreviver, dando término à sua odisseia, conseguido então chegar a um porto com destino que era o pretendido, no sentimento da sua própria compaixão perante a injustiça de ser ele próprio e não outro.

O apego à vida na sua forma de relação com o transcendente, ajuda ao combate pleno contra a doença, numa recusa de desistência através de uma combatividade de um corpo que é máquina mas também engloba a mente, voz interior que nos comanda, reforço que dá a força e a esperança necessária para se continuar a lutar, fazendo o regresso da viagem de comboio, com um vigor diferente, uma energia motivante, determinação de continuar a realizar viagens por esse mundo fora.

É o sentimento de muitos que passaram pela doença ou pelo internamento por doença.

sexta-feira, 10 de maio de 2019

Diário de leitura - Livro "Lincoln no Bardo" de George Saunders
















No Tibete, o livro Tibetano dos Mortos explica-nos a existência da terra dos mortos habitado por fantasmas, chamando-se bardo ao "transito" entre a morte e a reencarnação.

George Saunders levou mais de quatro anos a descrever a história, percebendo-se após a leitura o seu dimensionamento, nomeadamente no sentido de pesquisa, já que retrata uma época de guerra civil tendo como fundo a presidência de Abrahan Lincoln. A partir da morte do seu filho William, Saunders constrói um romance, tendo de visão, por um lado a visita do pai de William à sua sepultura, descrevendo o que se passa durante a noite, acentuando a vida imaterial através de uma história idílica sobre os fantasmas que aí permaneciam e por outro lado o sofrimento humano tanto de um pai como as variadas histórias que os fantasmas vão desvendando da sua personalidade observável a partir do "outro mundo".

É um romance não isento de emoção que faz pensar sobre o espiritismo, o que existirá do outro lado, ou se como muitas vezes digo, se há vida para além da vida.

Classificação 7/10, livro cordial.

segunda-feira, 24 de abril de 2017

Meditações - Ser visível ou invisivel

Somos visíveis no mundo em que vivemos, porque acreditamos através da nossa mente que vimos tudo o que se estende ao longo do horizonte que os nossos olhos alcançam através do mais ínfimo pormenor, desde que a retina, mesmo nublada, o permita observar.

Também somos visíveis porque vivemos numa sociedade com as suas regras próprias, valores distintos e os preceitos normativos que por mais que se queiram ocultos, ou que se pretendam renegar, estão e estarão sempre presentes seja em democracia ou estado autoritário, que vão dominando as pessoas e a sua cultura ou incultura, conforme o que mais fé possa dar à classe dominante e/ou politica.

Então e ser-se invisível, com a possibilidade de ver doutra forma o mundo em que vivemos, a configuração bizarra dos comportamentos humanos na senda de uma vida que se vai tornando mecanicista e corporal como se funcionássemos através de um backOffice, desentorpecimento que o mundo tenta expor, fruindo aparentemente de uma evolução de bem-estar e boa aventurança, de atitudes pessimistas encobertas na sociedade em que se vive.

Poder ser-se invisível durante algum tempo, o suficiente para indagação do comportamento diário da sociedade que nos rodeia e em que todos nos inserimos, poder-se-á aprender como mudar uma comunidade para melhor, destapando-a dos seus buracos e covas, cobrindo estes com areia ou cimento, progredindo para uma felicidade sem paradoxo mas com nexo, atingindo-se um bem virtuoso, que aos nossos olhos também se poderá juntar a nossa voz, feições menos formatadas e modos mais virtuosos, tal que permita que um qualquer sonho possa vir a ser uma realidade não ficcionada.   


domingo, 26 de março de 2017

Diário de leitura - Livro "Para onde vão os guarda-chuvas"" de Afonso Cruz


É o primeiro livro que leio de Afonso Cruz. Surpreende-me pela forma simplicista como escreve sobre tanta coisa, levando-nos a uma reflexão permanente sobre a sociedade e as pessoas que nela são integradas, tentando evidenciar que pese as diferenças sociais, religiosas e politicas, num contexto de questões delicadas entre os muçulmanos, hindus e cristãos, pode haver ainda tolerância, paz e amor, num mundo onde a intercolaboração pacifica é cada vez mais difícil.

Estamos perante o oriente efabulado com o que tem de mágico, como de perverso, numa história que se vai desencadeando, como se tudo se pudesse jogar metaforicamente através das peças de um tabuleiro de xadrez, peças transformadas em personagens, entrecruzadas ao longo da história, desde a procura do amor aos acessos de violência, às várias tragédias pessoais que vão ditando e impondo o essencial ao longo das 620 páginas do livro.

Toca em questões tão delicadas como sejam os maus tratos em crianças ou prostitutas, a exploração infantil, a violência sobre a mulher, os interesses políticos, o terrorismo ou a intolerância religiosa.  

É uma escrita simples, melodiosa, sem artifícios desnecessários que fala sobre tanta coisa bonita, que dá vontade de pegar no livro várias vezes para reter tantas bonitas passagens que o mesmo nos transmite. 

Tem um final duro e inesperado.

Classificação 5/5 conversador, obrigatório.