domingo, 29 de dezembro de 2013

O SILO, no Mundo das Bananas

Durante as férias decidi ler um livro com um género de literatura que normalmente não me é de primeira escolha, pelos conceitos e exposição dos assuntos em geral.

Entrei num mundo diferente pós-apocalíptico, em que uma comunidade tenta sobreviver num gigantesco silo subterrâneo hierarquizado, estratificado e rígido, com as hierarquias com excessiva categorização vertical, demasiado rígidas, não tendo “pejo” em enviar para o exterior, sem retorno, como” limpeza”, as pessoas que tentam questionar a realidade autoritária, ou argumentar sobre o seu funcionamento, contestando assim as regras infalíveis dessa comunidade.

Foi realmente uma experiência nova, útil e benéfica, que me estimulou e me vai impelir para outros horizontes de leitura, na escrita dirigida ao imaginário, irreal e utópico; mas também que esse mesmo mundo imaginário e utópico levará de certeza à reflexão sobre o mundo social e político em que vivemos.

É que este mundo apocalíptico e imaginário, é infelizmente real no mundo actual;

Pode-se perfeitamente comparar o conteúdo desta obra, nomeadamente o gigantesco silo subterrâneo, ao que se passa ainda e infelizmente nos países totalitários, em que a impossibilidade de expressar ideias por falta de liberdade, sem respeito pela autonomia do ser humano é total, para isso existindo também um mundo demasiado hierarquizado, que tenta não cometer o menor erro no sentido de manter nesse mesmo mundo o domínio totalitário total.

E nos países dito democratas?

Será que quando se pretende afirmar o correcto, ser integro contrariando, ser honesto desmentindo, ser correcto opondo-se, a diferença será na sociedade real, tão significativa, como nos tenta elucidar a palavra “democracia”?

sábado, 21 de dezembro de 2013

Do Burro Mirandês à Sardinha do Algarve




O jornal norte-americano “The New York Times” destacou numa sua edição recente o Burro Mirandês, comentando que o Burro é um animal que está em extinção e que só sobrevive com subsídios europeus, construindo assim uma metáfora, relativamente à sua semelhança com os seres humanos, ao esclarecer que o destino dos mesmos se comparam com uma população em declínio, dependente da União Europeia para poderem sobreviver.

Somos sem dúvida um povo empobrecido por décadas de ingenuidade e credulidade provocados pela falta de sensibilidade da classe política à sua verdadeira razão de ser e existir, nomeadamente na necessidade de melhoria das condições económica e social do povo português, que por motivos sobejamente conhecidos nunca foram atingidos, muito menos contemplados.

De tal maneira a pseudo-inocência existe na política que nenhumas vozes se levantaram na defesa em nome da dignidade e do patriotismo: Não havia Submarinos à mistura para defendermos os nossos peixes, nem Freeports a ser construído em terreno agrícola para impedirmos o habitat dos pássaros, nem Túneis para deixarmos de ver a luz do dia, nem…  

O político português, como é regra nestas situações, preferiu ser ultrajado e caluniado, ficar taciturno, ser discreto e manter-se reservado, em defesa da pátria, pois não fosse ficarmos sem o dinheiro do arrendamento das Lajes, ou aparecer por aí uns pós poluentes e então mais Burros ficaríamos…

Mas somos um país virtuoso, que temos o mérito de respeitar os animais, sejam os Burros ou outros, mesmo a raça humana que não deixa de ser um animal, embora racional.

Por isso somos Nobres;

Recebemos o estrangeiro, incluindo o Povo Norte-Americano, com o nosso sorriso, oferendo-lhes as nossas praias com o seu sol resplandecente, colorido, agradável e cerimonioso, as ondas onde a uma temperatura mais agradável podem vir surfar, a gastronomia cuja qualidade e quantidade tem uma fama e um saber que percorre o mundo, paisagens magníficas, monumentos únicos e ímpares que contam a história do mundo, construídos milhares de anos antes da descoberta da América do Norte e os animais de Raça Portuguesa, como o Burro Mirandês, o Cão de Água, ou a Sardinha

Ainda bem que o Burro Mirandês é nosso; 

Tal como exportamos calçado, literatura, investigação, mas acima de tudo trabalho (vejam ou revejam o filme “Gaiola Dourada”), é altura de exportarmos o Burro Mirandês, aproveitando o grande interesse pelo mesmo dos Norte-Americanos, para que fotografia aparecida na primeira página do jornal possa perdurar pelos séculos seguintes ficando como um animal histórico por via dos poucos séculos de existência desse País.

Grande, simpático, dócil, companhia dos idosos durante a sua vida de ancião, obediente ao dono que respeita, passou a ser assim, sem o saber, um animal mediático por ter aparecido em capas de jornais e por vias disso começará de certeza a ser pretendido e cobiçado por outros povos distantes e remotos, tal como o foi o Cão de Água Português.

Esperemos que haja continuidade ao conhecimento e divulgação de muito mais que este país tem de cultura e faz parte da sua história passada, mas continua a ser regra no presente; se de conselhos existe necessidade, então que venham artigos e imagens sobre a Sardinha do Atlântico ou Algarvia, o Galo de Barcelos, ou em última análise sobre os coisos da Louça das Caldas, a cerâmica, a pintura, a filigrana, os azulejos, …

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Os Míscaros Selvagens, Comer ou Não Comer, Eis a Questão…?

Numas férias recentes, decidi efectuar um passeio com o objectivo, não só para me alhear da dureza que é a vida profissional, esquecendo-a durante os bons momentos que a nossa existência ainda nos vai proporcionando, mas também para conhecer locais novos ou rever lugares velhos e paisagens com significância que por mais que sejam visitados nunca nos cansam.

Assim, de madrugada com a companhia da minha mulher e do nosso quatro patas, pastoreio, lá fomos serra acima, aproveitando para parar nalguns lugares que de recônditos, tinham uma beleza que a nossa visão não esqueceu ou não esquecerá.

E assim fomos aproveitando o tempo, caminhando em pequenos percursos, aproveitando para tirarmos bonitas fotografias à paisagem que nos envolvia, filmarmos belos e harmoniosos momentos que ficarão para a posteridade, andarmos, corremos com o quatro patas para aquecermos com o frio, rejubilámos e deleitámos-nos com as magníficas encostas e a correria das águas e a beleza da sua música, notas musicais inventadas no seu percurso.

Numa pequena aldeia perdida pela serra bonita e conservada, entrámos numa tasca para pedir autorização para podermos comer algo na esplanada, já que o quatro patas assim obrigava. As horas passadas com os donos e o nenhum ou apenas ténue contacto com outros seres humanos, levou à percepção de que se podia irritar com outras presenças que não a nossa.

Nestes locais recônditos, habituei-me por normalidade a pedir para refeição o que estivesse feito, pois que melhor maravilha senão aquilo que é feito na altura pelos serranos que tão bem cozinham e tão bem servem.

Depois de uma sopa bem quentinha de hortaliça, que muito bem soube, trouxe o dono num pequeno tacho de barro, uns cogumelos estufados com carne de vitela e batata cozida.

Olhei para a minha mulher e ela para mim, algo apreensivos e preocupados, mas com a curiosidade de provar pela primeira vez aquilo que na nossa casa nunca entrara, os cogumelos selvagens.

Mas esse fenómeno tem uma forte razão de ser: Vi na minha vida profissional, famílias intoxicadas com cogumelos venenosos, alguns a falecerem com tenra idade, outros com sequelas física ou psíquica, para toda a vida; todos diziam o mesmo: Fomos nós que os apanhámos, sempre os soubemos escolher, nunca pensámos que isto fosse possível.

Comemos, estava bom, a apreensão diluiu-se, convidámos o dono a sentar-se connosco (o quatro patas já se tinha convencido da bondade do dono da tasca) e contou-nos histórias serranas que tinham a ver com aventuras e desventuras devido à apanha dos cogumelos selvagens.

Um belo momento de vida, bem regado de saber e conhecimento para a posteridade.

A noite chegou e levou-nos para o local normal onde saboreamos as horas nocturnas do repouso merecido; mas a mesma foi preenchida de sobressaltos e preocupação pela provável perturbação sonhadora de algo que sabíamos que estava a tocar no nosso subconsciente, que nos incomodou durante essas horas que por isso mais custaram a passar; mas só de manhã na sequência da coincidência de pensamentos que muitas vezes os casais têm, a mesma frase foi dita simultaneamente:

Ainda estamos vivos.

A vida é sem dúvida uma caixinha de surpresas!



segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

"KAROSHI": Trabalhar entre a Vida e a Morte

 
Vivemos numa sociedade contemporânea que cada vez mais exige profissionalmente de nós, ditando e impondo um esforço rigoroso, a uma velocidade vertiginosa, alucinante e clemente, que gera por si uma transformação radical na vida das pessoas.

Passámos a ser os actores principais num mundo de stress, angústias e aperto, onde se vive a um ritmo demasiadamente acelerado, com uma propensão alucinante, provocando um estado de insatisfação constante (e crescente), sem haver tempo para dedicação a “coisas” tão indispensáveis, como saborearmos o bom que a vida nos pode dar, ou "convivermos" com aquilo que nos permita a felicidade espiritual e extrínseca, como sejam a família ou por exemplo a compreensão da própria natureza.

A preocupação com o trabalho é um continuar sem fim, com tarefas permanentemente criadas, inovadas ou inventadas que nos leva a uma entrega e rendição ao "vazio mundano". Temos dificuldade em gerir as 24 horas de cada dia; seria necessário duplicar a hora, para tolerar o ritmo frenético, delirante,  desvairado e alucinante que impreterivelmente pode levar ao esgotamento, exaustão e cansaço físico e psíquico que qualquer de nós pode estar sujeito.

No Japão esse excesso de actividade ligado ao stress ocupacional deu origem a uma nova (velha) palavra "Karoshi" que em si significa "morte por sobrecarga de trabalho", reflectindo-se clinicamente numa das causas de  morte súbita, "ataque cardíaco” ou acidente vascular cerebral.

Segundo a história japonesa o aparecimento desse termo significou alívio para muitas viúvas, filhos e familiares os quais então não sabiam o porquê da razão das mortes, provocando os processos indemnizatórios que então se iniciaram.

Vivemos num mundo moderno, em que o homem passou a ser um computador, provocando entre ele próprio uma competição cada vez mais intensa, enérgica e violenta, ao qual a sociedade se tenta adaptar, mas sem o sucesso previsto. O ser humano passou a ser tratado como um “animal” sem estabilidade nem a solidez pretendida, passando a ser irracional, com falta de harmonia, sem lógica nem discernimento.

domingo, 8 de dezembro de 2013

Dilema: Um Bom Livro ou um Bom Vinho?

Um dilema que me apareceu durante as férias: Se comprar um bom vinho que em boa companhia se bebe rapidamente, ou um bom livro que em solidão e silêncio demora vários dias a ser lido?

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

O “Esforço Sorridente” dos nossos Políticos

Adquiri o jornal “Diário de Noticias” do último dia 2 de Dezembro para obviamente me manter em contacto com as notícias que vão assolando e devastando este nosso país na sua indiferença e alheamento da realidade do que de facto se passa neste país. No intervalo de uma acção de formação, folheava desinteressadamente “página a página” o jornal quando me deparei com fotografias reais de alguns políticos deste pequeno estado, com um sorriso maravilhoso mas fictício, que me fizeram pensar estar a viver num autêntico País das Maravilhas…Obviamente mais que falso!

Esta situação incontrolável, agravada pela já habitual, aliás vulgar e repetitiva prática de inclusão de “boys” na área governamental, pelo seu pejo em saber o que é (não é) saber governar, instiga a um agravamento das condições de vida do povo português; antagonicamente, nas imagens das fotos que se verificam nos órgãos de comunicação social, o reflexo é de progressiva felicidade, de sorriso e satisfação (não sei de quê), de prazer, (mais que agrado).

Encontro neste número de jornal as fisionomias e semblantes dos políticos da actualidade com o seu trejeito de sorriso, não de dor, não de preocupação; vejo e observo, por exemplo, as fotografias de António José Seguro, Marcelo Rebelo de Sousa ou José Sócrates (páginas 11), sorrirem como se neste país nada de anormal se passasse, que de nada os possa culpabilizar, como se nada os ligasse ao passado; mais, Miguel Poiares Maduro, Ministro-adjunto e do Desenvolvimento Regional, que ainda antes de ter esse cargo, em 2012 afirmava ser “a regra permanente” de preferência de natureza constitucional, como inultrapassável por si mesmo…

Numa veracidade actual em que as ideias não (podem) abundar, por falta de inércia dos partidos (outros interesses se sobrepõem) e por pressão proibitiva, é lógico que a população portuguesa tende a estar cada vez menos risonha e menos afável, até porque se culpabilização do afundamento do país existe, os culpados são sempre os mesmos…"Nunca os políticos"…Se alguma dúvida existisse basta ouvir ou ler entrevistas de César das Neves!

Mas deixem-me insistir no mesmo: O Ministro Maduro, provavelmente mais imaturo que amadurecido: Como, ao sabor do interesse pessoal a linguagem muda…Nomeado algum tempo após as suas declarações vem como “desculpabilização”, perante o dilema afirmar…O “permanente” é uma palavra “paradoxal”…Típico da linguagem “pretuguesa” utilizada na política em geral.

E assim vai andando o nosso país como se de terceiro mundo se tratasse…Ou para lá caminha!