sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Os Míscaros Selvagens, Comer ou Não Comer, Eis a Questão…?

Numas férias recentes, decidi efectuar um passeio com o objectivo, não só para me alhear da dureza que é a vida profissional, esquecendo-a durante os bons momentos que a nossa existência ainda nos vai proporcionando, mas também para conhecer locais novos ou rever lugares velhos e paisagens com significância que por mais que sejam visitados nunca nos cansam.

Assim, de madrugada com a companhia da minha mulher e do nosso quatro patas, pastoreio, lá fomos serra acima, aproveitando para parar nalguns lugares que de recônditos, tinham uma beleza que a nossa visão não esqueceu ou não esquecerá.

E assim fomos aproveitando o tempo, caminhando em pequenos percursos, aproveitando para tirarmos bonitas fotografias à paisagem que nos envolvia, filmarmos belos e harmoniosos momentos que ficarão para a posteridade, andarmos, corremos com o quatro patas para aquecermos com o frio, rejubilámos e deleitámos-nos com as magníficas encostas e a correria das águas e a beleza da sua música, notas musicais inventadas no seu percurso.

Numa pequena aldeia perdida pela serra bonita e conservada, entrámos numa tasca para pedir autorização para podermos comer algo na esplanada, já que o quatro patas assim obrigava. As horas passadas com os donos e o nenhum ou apenas ténue contacto com outros seres humanos, levou à percepção de que se podia irritar com outras presenças que não a nossa.

Nestes locais recônditos, habituei-me por normalidade a pedir para refeição o que estivesse feito, pois que melhor maravilha senão aquilo que é feito na altura pelos serranos que tão bem cozinham e tão bem servem.

Depois de uma sopa bem quentinha de hortaliça, que muito bem soube, trouxe o dono num pequeno tacho de barro, uns cogumelos estufados com carne de vitela e batata cozida.

Olhei para a minha mulher e ela para mim, algo apreensivos e preocupados, mas com a curiosidade de provar pela primeira vez aquilo que na nossa casa nunca entrara, os cogumelos selvagens.

Mas esse fenómeno tem uma forte razão de ser: Vi na minha vida profissional, famílias intoxicadas com cogumelos venenosos, alguns a falecerem com tenra idade, outros com sequelas física ou psíquica, para toda a vida; todos diziam o mesmo: Fomos nós que os apanhámos, sempre os soubemos escolher, nunca pensámos que isto fosse possível.

Comemos, estava bom, a apreensão diluiu-se, convidámos o dono a sentar-se connosco (o quatro patas já se tinha convencido da bondade do dono da tasca) e contou-nos histórias serranas que tinham a ver com aventuras e desventuras devido à apanha dos cogumelos selvagens.

Um belo momento de vida, bem regado de saber e conhecimento para a posteridade.

A noite chegou e levou-nos para o local normal onde saboreamos as horas nocturnas do repouso merecido; mas a mesma foi preenchida de sobressaltos e preocupação pela provável perturbação sonhadora de algo que sabíamos que estava a tocar no nosso subconsciente, que nos incomodou durante essas horas que por isso mais custaram a passar; mas só de manhã na sequência da coincidência de pensamentos que muitas vezes os casais têm, a mesma frase foi dita simultaneamente:

Ainda estamos vivos.

A vida é sem dúvida uma caixinha de surpresas!



7 comentários:

  1. Os míscaros, ou de uma forma geral, os cogumelos selvagens, são gastronomicamente falando um "gormet" das nossas beiras, pena é que sem que se conheçam ou identifiquem, se comam...

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    1. Caro anónimo: estou plenamente de acordo consigo, tendo em conta que falamos de gourmet.
      Claro que para não haver acidente há que conhecê-los e identificá-los.
      Cumprimentos

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  2. Miscaros ... tb nao os como....pelos motivos que o Dr nao comia mas qual prenda de Natal pois ha sempre uma primeira vez, e aproveito para desejar um Feliz Natal

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  3. Caro Jorge Moura
    Acredite, seria mesmo uma prenda de Natal demasiado cara.
    Um Feliz Natal para si e Familia
    Abraço

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  4. Adorei a narrativa. Já comi e gostei daqueles cogumelos pequeninos mas servidos num restaurante de confiança!
    Obrigado pela visita ao meu blog. Bom Natal!

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  5. Caríssimo Dr.

    É pena que quando as intoxicações acontecem e as pessoas recorrem aos serviços de saúde nâo se investigue profundamente quais as espécies efectivamente responsáveis e se continue a culpabilizar espécies inofensivas cuja principal caracteristica negativa que têm é serem muito semelhantes à tóxica, esta na maior parte dos casos desconhecida pelos apanhadores e pelos profissionais de saúde que a nivel hospitalar procedem à interpelação das pessoas afectadas.

    Gravito Henriques

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