Numas férias recentes, decidi efectuar
um passeio com o objectivo, não só para me alhear da dureza que é a vida
profissional, esquecendo-a durante os bons momentos que a nossa existência
ainda nos vai proporcionando, mas também para conhecer locais novos ou rever
lugares velhos e paisagens com significância que por mais que sejam visitados
nunca nos cansam.
Assim, de madrugada com a
companhia da minha mulher e do nosso quatro patas, pastoreio, lá fomos serra
acima, aproveitando para parar nalguns lugares que de recônditos, tinham uma
beleza que a nossa visão não esqueceu ou não esquecerá.
E assim fomos aproveitando o
tempo, caminhando em pequenos percursos, aproveitando para tirarmos bonitas
fotografias à paisagem que nos envolvia, filmarmos belos e harmoniosos momentos
que ficarão para a posteridade, andarmos, corremos com o quatro patas para
aquecermos com o frio, rejubilámos e deleitámos-nos com as magníficas encostas e
a correria das águas e a beleza da sua música, notas musicais inventadas no seu
percurso.
Numa pequena aldeia perdida pela
serra bonita e conservada, entrámos numa tasca para pedir autorização para podermos
comer algo na esplanada, já que o quatro patas assim obrigava. As horas
passadas com os donos e o nenhum ou apenas ténue contacto com outros seres
humanos, levou à percepção de que se podia irritar com outras presenças que não
a nossa.
Nestes locais recônditos,
habituei-me por normalidade a pedir para refeição o que estivesse feito, pois
que melhor maravilha senão aquilo que é feito na altura pelos serranos que tão
bem cozinham e tão bem servem.
Depois de uma sopa bem quentinha de
hortaliça, que muito bem soube, trouxe o dono num pequeno tacho de barro, uns
cogumelos estufados com carne de vitela e batata cozida.
Olhei para a minha mulher e ela
para mim, algo apreensivos e preocupados, mas com a curiosidade de provar pela
primeira vez aquilo que na nossa casa nunca entrara, os cogumelos selvagens.
Mas esse fenómeno tem uma forte
razão de ser: Vi na minha vida profissional, famílias intoxicadas com cogumelos
venenosos, alguns a falecerem com tenra idade, outros com sequelas física ou psíquica,
para toda a vida; todos diziam o mesmo: Fomos nós que os apanhámos, sempre os
soubemos escolher, nunca pensámos que isto fosse possível.
Comemos, estava bom, a apreensão
diluiu-se, convidámos o dono a sentar-se connosco (o quatro patas já se tinha
convencido da bondade do dono da tasca) e contou-nos histórias serranas que
tinham a ver com aventuras e desventuras devido à apanha dos cogumelos
selvagens.
Um belo momento de vida, bem
regado de saber e conhecimento para a posteridade.
A noite chegou e levou-nos para o
local normal onde saboreamos as horas nocturnas do repouso merecido; mas a
mesma foi preenchida de sobressaltos e preocupação pela provável perturbação
sonhadora de algo que sabíamos que estava a tocar no nosso subconsciente, que
nos incomodou durante essas horas que por isso mais custaram a passar; mas só
de manhã na sequência da coincidência de pensamentos que muitas vezes os casais
têm, a mesma frase foi dita simultaneamente:
Ainda estamos vivos.
A vida é sem dúvida uma caixinha
de surpresas!
Os míscaros, ou de uma forma geral, os cogumelos selvagens, são gastronomicamente falando um "gormet" das nossas beiras, pena é que sem que se conheçam ou identifiquem, se comam...
ResponderEliminarCaro anónimo: estou plenamente de acordo consigo, tendo em conta que falamos de gourmet.
EliminarClaro que para não haver acidente há que conhecê-los e identificá-los.
Cumprimentos
Miscaros ... tb nao os como....pelos motivos que o Dr nao comia mas qual prenda de Natal pois ha sempre uma primeira vez, e aproveito para desejar um Feliz Natal
ResponderEliminarCaro Jorge Moura
ResponderEliminarAcredite, seria mesmo uma prenda de Natal demasiado cara.
Um Feliz Natal para si e Familia
Abraço
Adorei a narrativa. Já comi e gostei daqueles cogumelos pequeninos mas servidos num restaurante de confiança!
ResponderEliminarObrigado pela visita ao meu blog. Bom Natal!
Obrigado também.
ResponderEliminarDesejos de um bom Natal
Caríssimo Dr.
ResponderEliminarÉ pena que quando as intoxicações acontecem e as pessoas recorrem aos serviços de saúde nâo se investigue profundamente quais as espécies efectivamente responsáveis e se continue a culpabilizar espécies inofensivas cuja principal caracteristica negativa que têm é serem muito semelhantes à tóxica, esta na maior parte dos casos desconhecida pelos apanhadores e pelos profissionais de saúde que a nivel hospitalar procedem à interpelação das pessoas afectadas.
Gravito Henriques