Antes do seu
lançamento, já o livro “Alentejo prometido”, levantava polémica nos meios
sociais, como o Facebook, o Twitter e alguns blogues, tendo-se chegado a
situações extremas, nomeadamente com ameaças à integridade física do autor.
De tal maneira “foi o
levantamento” que houve um jornalista que fez a comparação com a fatwa contra
Salman Rushdie.
Tudo isto encapotado no
facto do autor tratar o suicídio no Alentejo Litoral, partindo da sua própria
cronologia.
Li o livro ontem (foi
lançado a nível nacional há dois dias).
Fico particularmente,
como leitor mas também como português, desagradado por se ter levantado tanta
polémica, apenas por se pretender levar ao conhecimento profundo o aclarar do Alentejo,
neste caso o seu Litoral com as suas histórias antigas, mas que se mantém
recentes.
Ou talvez não, quando o
autor revela o que sabemos ser uma realidade passada mas ainda presente,
infelizmente, ao unir em puzzle a Igreja,
as Mulheres, o Suicídio e como afirma “o Complexo
Desenraizado”.
As Igrejas “inóspitas no interior” e “feias no
exterior” são uma veracidade que se estende pelo país fora quando vemos as
mesmas muitas vezes abandonadas, com o interior vazio ou esvaziado, mas por
motivos variados; é “crime” haver coragem para desmascarar o mau reinado de
quem na Igreja devia ter a obrigação de velar por aquilo que ainda são os monumentos
de maior importância neste pequeno país. A Igreja não se preocupou com o
analfabetismo, a miséria inerente a esta gente ou a possibilidade de dar meios
para a possibilidade de um conhecimento cultural mínimo.
As mulheres; sem dúvida uma
atmosfera muçulmana reinante por aquelas bandas; Rentes de Carvalho no seu
livro “Ernestina” regressando às suas
origens descreve com clareza o fraco papel de intervenção das mulheres na
sociedade que no século XX, pouco diferia nalguns aspectos da época medieval; António
Lobo Antunes em “Sôbolos Rios Que Vão”
aventura-se na descrição da cumplicidade entre o seu próprio pai e uma
empregada doméstica na Beira Alta. Henrique Raposo descrevendo a elevada
percentagem de filhos ilegítimos dá exemplos de bastardia, indo com coragem
ainda mais longe, ao afirmar que “homens da alta sociedade, de Manuel Alegre a
Nicolau Breyner iniciavam a vida sexual impondo-se às criadas e trabalhadoras”.
O suicídio, o mais polémico, mas talvez o menos
polémico na realidade, pela sua verdade factual, sendo descrito com rigor e
precisão tanto geneticamente como socialmente tendo em vista o desinteresse, o
desenraizamento, como prática colectiva.
O complexo do
desenraizado provavelmente inerente aos temas que se interrelacionam.
Será que todas estas
descrições incomodaram tanta gente ao ponto das ameaças veladas terem sido
levadas a sério?
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