Reli recentemente o livro “O
estrangeiro” de Alberto Camus. Revi-me como a maioria da população portuguesa a
vaguear entre os extremos do que são a incompreensão e a existência de
sentimentos, tal como é a realidade genérica desta obra.
Estamos num país que foi
empobrecendo ao longo das últimas décadas pela existência de personalidades
(plural ou singular tanto faz) que permanecendo em cargos de liderança,
permanente ou alternadamente, não mostraram ambição para a mudança, ou modificação
do estado de “ruína” económica em que nos encontramos, através de um
desinteresse abismal, enorme e absurdo, numa falta de sentimentos pelos
sacrifícios que a população neste momento sofre e suporta, no meu entender a
verdadeira realidade da personagem principal do livro.
Durão Barroso resolveu sem
concurso, como devia ser norma, nomeadamente de alguém que teve a
responsabilidade máxima na Europa, o problema de emprego do filho no Banco de
Portugal, saltando por cima da legalidade e da legislação que o mesmo bem
conhece, e que lhe “deu jeito” esquecer.
João Soares também se lembrou
dele próprio e não do desemprego que grassa em Portugal, resolvendo com o atual
governo o problema da empregabilidade do filho, licenciado em história,
tornando-o assessor no Ministério da Educação.
Como tantos outros casos, que vão
sendo divulgados na comunicação social e nos meios sociais, esse tédio pelos
reais problemas do país, a observação cínica pela realidade da classe média e
da classe pobre, faz supor que somos cada vez mais estrangeiros num país que
tem uma soberania dúbia, sendo integrante de vários países, se nos lembrar-mos
da venda ignóbil e sórdida de grande parte do património português – faltava
também parte da TAP ser entregue aos chineses, como tivemos conhecimento há
poucos dias.
Mersault, personagem principal é
a passividade de um povo que tudo consente, porque nem armas legais tem ao seu
alcance, acabando apenas por dizer o indispensável e o imprescindível. Ele
demonstra, principalmente na parte final do livro, a ideia da indiferença
perante a vida, desprovida muitas vezes de sentido, dando uma visão céptica da
realidade por desinteresse de fazer parte de uma sociedade que descrê nos seus
valores, que deveriam ser dominantes, mas que deixaram de existir, moralmente e
eticamente.
Se este livro escandalizou, por
provocação a época em que foi publicado, hoje a personagem principal espelha a
imagem da desagregação politica e social de um mundo em que Portugal,
infelizmente, é um exemplo real.
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