Era
precisamente aquele filme que me estava predestinado, naquela tarde fria e apática, onde depois de uma maratona de trabalho profissional, necessitava
de algo diferente que fosse para ler ou para ver, mas não encontrava.
Tinha
gravado o filme “O Escafandro e a Borboleta”; abri a televisão e enquanto
decorriam as primeiras cenas do filme, tentei recordar o que na minha memória
ficou da leitura desse mesmo livro efectuada anos antes, mas a recordação era
vaga: Jean-Dominique Bauby, editor da revista Elle terá sofrido um derrame
cerebral, acordando vinte dias depois, com síndroma de Locked-In, incapaz de
comunicar a não ser através de movimentos com o olho esquerdo.
O filme
sem dúvida emocionou-me mais que o livro; a sensibilidade e a luta do Escafandro, através do seu corpo
imobilizado pela paralisia generalizada, com a Borboleta, ou seja, a sua imaginação que por meio de movimentos das
pálpebras e do olho esquerdo conseguiu com uma persistência louvável, ter a
força suficiente para conseguir a comunicação necessária para poder escrever um
livro, que por ser de uma humanidade chocante nos toca no coração e por isso
nos perturba emocionalmente.
Descreve
momentos felizes, patenteia a adaptação a uma cadeira de rodas, ouvindo mas nem
sempre conseguindo transmitir o que lhe apetece dizer, consequência definitiva
do seu estado, que só não é vegetativo porque se sabe que através de um olho,
naquele corpo que não mexe, existe uma alma que consegue orientar o seu ser,
mas mais ainda o seu querer.
Existem
Forças que são ainda hoje
inexplicáveis,
Jean-Dominique,
após a confirmação da edição do seu livro tem uma pneumonia e morre dez dias
depois. O seu objectivo fora cumprido, dizer à sociedade que para além da
síndrome de Locked-In, existe vida, que poderá ser vivida de forma diferente
encarando os problemas de forma mais feliz, confrontando a realidade do
dia-a-dia com alegria e motivação com o intuito de tudo na vida poder ser mais
leve, suave e aprazível.
Fica-me
a dúvida que à qual não consigo responder, ou seja, que Força é essa que nos motiva para atingir um determinado objectivo e
que a partir daí pode-se desligar de nós próprios tal como nós desligamos um
simples interruptor, apagando-se por vezes totalmente do nosso corpo, nem que seja
através do aparecimento da morte?
João Gabriel, não sendo o que se pode chamar cinéfilo, gosto de ler sinopses de filmes. Este que apresentas tem para mim especial interesse. O personagem terá muito em comum comigo, Mas enquanto se deu o falecimento eu pude enganar o morte e isso pode ser inexplicável, por um lado, por outro, tem de haver sempre a determinação de viver.
ResponderEliminarDepois de AVC, e muita gravidade, do hospital me mandaram para casa, em semi coma e em estado terminal. Acompanhou-me um relatório médico.
Dizia isto: ao doente o melhor que lhe pode acontecer é passar o resto da vida em estado vegetativo.
Depois disso já publiquei sete livros e com mais dois em edição.
Abraço
Caro Daniel Costa
ResponderEliminarEnquanto escrevia este post recordei-me da sua história bem perceptível no documentário televisivo que tive oportunidade de assistir.
Por isso mesmo considero que enquanto existir um "mínimo" sinal de vida, seja qual seja, leva a que tenha de haver um máximo de esperança tal como felizmente aconteceu no seu caso.
Abraço