Eram
muitas as dores que sentia, incomodativas, que me limitavam a locomoção e
impossibilitava alguns movimentos que fazem parte da nossa normalidade e que
inconscientemente repetimos centenas ou milhares de vezes durante a actividade diária.
Decidi
por recorrer ao médico de família, como todos deveremos fazer quando algum
dilema de saúde surge. Estava frágil e incapacitado pela dor e pela dificuldade
de me mobilizar e impotente pela debilidade psíquica que a mesma provoca.
Depois
de uma história clínica cuidadosa, fui observado, medicado e foram-me pedidos
alguns exames entre os quais um Tomografia Axial Computadorizada.
Lá
fomos, porque não conseguia conduzir, pela estrada que não parecia ter fim,
sinuosa ou tortuosa, estreita, mas único refugo para evitar os custos que se
vão adicionando por cada pórtico nas auto-estradas que todos continuaremos a
pagar indefinidamente.
Finalmente
a capital, que tudo de bom parece ter, mas que da confusão de trânsito não se
consegue livrar, mas enfim, não foi esse o objectivo que me direccionou, pelo
que com alguma dificuldade lá cheguei ao local pretendido.
Entrei
num aparelho com a forma circular que mais parecia um donut, onde me deitei
numa maca e aí deslizei provavelmente para a zona onde me iriam ser emitidas as
radiações, que alguma coisa poderia descobrir neste corpo até ao momento são e sadio.
Ouvi uma
voz de timbre metálico, que de algum lado parecia conhecer, mas rapidamente me
lembrei do meu GPS; ia orientando os movimentos respiratórios, assimilando os
conselhos, mas o tempo passava com dificuldade, de maneira que minutos pareciam
horas, talvez por reflectir que alguma coisa menos boa se estaria a passar,
porque a noção é que quando tudo corre bem, nada é tão demorado e tudo se torna
mais fácil de ser assimilado.
O círculo
volta-se a abrir, a maca torna a deslizar, mas quando pensava ter terminado o
exame, sou confrontado por um enfermeiro que delicadamente pede para poder
perfundir um produto, contraste, necessário para aclarar algumas dúvidas
existentes, mas não me transmitiu quais.
A
desesperança,
O
rebuliço interior, o quase enlouquecimento, o reflectir sobre tudo e sobre
nada, desde o início que somos vida ou da vida fazemos parte, até quando e como
ela terminará já que alguma coisa de grave existirá, pois um contraste após tanto
tempo para observação destes meus órgãos deixam de ser um meio, mas passam a
ser um fim, que brevemente me irá ser transmitido.
A nossa
existência passada, nos momentos de aflição, parece-nos curta, errante nos
actos passados, ausente das coisas boas que teremos vivido, tanta coisa de
diferente que deveríamos ter feito, o tempo que viveremos, sem tempo, porque o
mesmo se diluirá nas idas e desavindas para o meio hospitalar para as sessões
de quimioterapia ou de radioterapia, ou sabe-se lá mais o quê, deixar-me-ão
desde já “morto” para o tempo que irei durar.
Terminou
o exame; durou uma hora e meia, suficiente para perceber o que desde já não
estará disseminado por um corpo metafórico como sejam as peças de um relógio,
que passou a ser disfuncional.
Finalmente
o resultado do julgamento do colectivo dos juízes que perante as provas
evidentes decidiram:
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