Existem dias assim, em que acordamos depois de uma noite mal
dormida, com uma estranheza que não sabemos dar significado, porque os pensamentos
sem a meditação ideal terão sido tantos, uns durante os sonhos, mas que não
recordamos porque o nosso subconsciente assim o entende não nos fazer lembrar e
outros que nos vão atormentando e molestando, infligindo-nos um martírio
permanente, que releva a nossa pouca paciência para limiares elevados de impaciência
e inquietação que nos desassossega ainda mais, nos irrita e nos enerva.
Aí não será de procurar a solidão, e sentir que ela possa
tomar conta dos nossos actos?
Ser-se fugazmente solitário, pese o desvanecimento da alma que
se abate sobre nós próprios, não deixa de ser uma companhia diferente, que não
nos atormenta como o barulho das vozes agudas ou graves, das afrontas, dos impropérios
das ignomínias, ou mesmo dos afectos, da dedicação ou da devoção de quem está
presente à nossa volta e que considera ter o dom de nos dever dar, porque pode
ser fácil pressentir o nosso estado de espírito, neste abraço do nosso corpo, connosco
mesmo.
Podemos estar numa festa acompanhado de muita gente, pessoas
boas que possamos gostar, mas isso não implica que em nossa volta nada mais
vejamos senão o escuro do cantinho escondido no abrigo do nosso cérebro, ou as
imagens distintas e diversas no nosso “eu”, confusão mental do cansaço a que
estamos sujeitos nesta vida de problemas múltiplos, que vamos sendo
confrontados durante as horas do dia em que nos mantemos acordados.
O mundo pode-nos rodear à sua maneira, e muitas vezes esse
mesmo mundo “humano” pode não compreender ou não querer compreender que essa
mesma solidão seja necessária para que posteriormente possamos ter a força, o
vigor e a energia de o poder confrontar doutra forma, com satisfação e
motivação do que nos rodeia, também com um sorriso real e não virtual, pleno de
felicidade, de satisfação e de júbilo, que sem esses momentos de solidão poderemos
não conseguir atingir, arriscando-nos, aí sim, numa tristeza mantida e
insuperável, poder cair na depressão, no isolamento permanente, na dependência
emocional e “in extremes” na vulnerabilidade corporal e imunitária.
Sendo a solidão necessária, há que haver a compreensão para
que ela deva subsistir como uma companhia transitória, que da tristeza irá
permitir que cada um de nós possa demonstrar ao mundo que com essa ajuda, seremos
capazes de ultrapassar o desespero com a satisfação de podermos acreditar que
afinal temos a nossa independência, quando o nosso pensamento se encontrar em equilíbrio
com o nosso ego, elevando a nossa auto-estima ao prenúncio da felicidade final.
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