Somos um país que desde o 25 de Abril, deixámos
de viver solitariamente para nos tornarmos progressivamente uma pátria com
vontade de nos inserirmos na Europa. Melhorámos as condições de vida da
população portuguesa, nomeadamente as sanitárias e higiénicas, mas também evoluímos
na “salubridade” generalizada o que nos permitiu atingir alguns índices de que
nos podemos orgulhar, como tenham sido, por exemplo, a taxa de mortalidade
infantil ou a taxa fetal tardia, o que no início da primeira década do actual
século foi orgulho nacional, pelo lugar que pudemos ocupar entre os países mais
evoluídos do mundo.
Esta segunda década como é do conhecimento
geral, pelas razões também sobejamente conhecidas, Portugal conseguiu levar a
peito as palavras do actual Primeiro-Ministro, quando este afirmou ser
necessário seguirmos a via do empobrecimento, quer no âmbito Privado, mas essencialmente
a nível da Administração Pública.
Um país que em muitos sectores, mas também nos
ordenados, ainda se encontrava a alguns anos luz da maioria dos países da
Comunidade Económica, viu por via da política em vigor ver regressar a pobreza
em força, razão de maior carência de quem já era pobre, como também do descaminho
de uma classe média que em número significativo começou a deixar de ter suporte
para ultrapassar as dificuldades que no dia-a-dia se foram impondo à vontade do
cidadão comum.
Na época Salazarista eram evidentes, embora encobertas,
determinadas doenças como fossem a tuberculose pulmonar, ou a mortalidade
infantil elevada, em número que não interessava saber, fruto dos alicerces da
ditadura que impedia com os meios ao seu alcance, para proveito de alguns, o atingimento
económico ou o entendimento cultural necessário para a evolução de um país e
motivação da sua população.
Tal como nessa época, para além da miséria
humana que estava instalada, assistimos agora, de novo, ao empobrecimento civilizacional e cultural; civilizacional com o desemprego a
aumentar acentuadamente, a fome a reaparecer, os sem-abrigo a aumentarem, a
higienização a diminuir, o saneamento básico a desaparecer, os pais a deixarem
de ter as condições necessárias para se alimentarem convenientemente ou
deixarem de poder dar aos seus filhos o alimento indispensável, designadamente os
bebés a serem de novo alimentados com o leite mais barato e impróprio para a
idade, levando ao aparecimento de doenças como sejam a disenteria ou
malnutrição que lhe são associados com o previsível aumento da morbilidade e
mortalidade; cultural, como a
diminuição drástica do número de pessoas que vão a espectáculos culturais, o
encerramento de cinemas, teatros, museus, fruto da política ou da necessidade
de poupança das pessoas para bens alimentares que deixam de gastar dinheiro em
actividades “supérfluas”, ou a diminuição significativa de compra de livros,
outro índice importante na compreensão do estado cultural de um país.
Entrámos assim na segunda década deste século
com um aumento da taxa de mortalidade infantil, que embora teoricamente ainda
seja aceitável, não temos dúvidas que o seu aumento gradual mas progressivo
desde o ano de 2011, levar-nos-à aos poucos, para valores que se equiparão à
nossa actual (in)significância, por mais que o Ministério da Saúde, através do
seu órgão Direcção Geral de Saúde, ou a própria Ordem dos Médicos, “pareçam”
duvidar das razões da inversão dos valores
que na nossa sociedade actual explicam essa mesma transposição.
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