Aquela
noite estava chuvosa e fazia frio; uma neblina ajudava ao desanimo dos poucos
pássaros que se encontravam perdidos, ou porque se esqueceram de emigrar,
por distracção, ou porque não foram aceites pelos seus homólogos para
uma emigração para terras tão distantes, ou porque a velhice começou a ser
sinal de fraqueza mental (têm células semelhantes ao do nosso neocortex)) e
porque também a faceta muscular não lhes é perdoada com o passar dos anos.
Fomos
ativados através da viatura médica de emergência médica, tendo na altura sido
pouco perceptível a razão da pressa, mas em elevada velocidade
chegámos ao local indicado.
Na
cidade, coloração visível, de luzes díspares e intermitentes;
Estávamos
no Dia 24 de Dezembro, em que estaria a acontecer algo, podendo estar a vida de
alguém em risco.
Quando
chegámos ao destino indicado, percebemos: O desaparecimento de uma pessoa, na
altura refletida através dos holofotes, no interior e no fundo de um poço. A
estimulação positiva efetuada verbalmente pelo Bombeiros que com a sua
competência e solidariedade para com o cidadão comum, tentavam com os seus
meios retirar o mesmo do local onde se encontrava.
Tudo
foi rápido, pese a indiferença que foram o passar das horas, até alguém ouvir
um grito que mais parecia um gemido, mas sendo ou não, vinha de um ponto
longínquo, mas que na realidade estava mais perto do que inicialmente se
previa.
Apresentava
um estado clínico hipotérmico, com dificuldade em respirar, porque
os pulmões não toleraram o excesso de água que para eles entrou; foi
aquecido, entubado e ligado a um ventilador, tendo logo que possível, sido
transferido para um serviço de cuidados intensivos no hospital.
Passaram
algumas horas e estávamos já no dia 25 de Dezembro, poucos minutos passavam da
meia-noite;
Os
madeiros, algures dispersos pela cidade; muita gente envolvente, garrafas meio
vazias ou vazias, gente que parecia dançar, meio cambaleante, danças anómalas
não estilísticas pelo menos no que diz respeito ao conhecimento que tenho dessa
arte.
A
felicidade de um sucesso clínico, numa noite fria e desamena, que mais
lembrava a vontade de se estar em família, perto de uma lareira, em
tertúlia geracional, razão de milhões de portugueses estarem a essa hora no seu
ambiente fechado, luzidio e aquecido.
A
melhoria progressiva do doente, até que, no dia 31 de Dezembro, se tirou o tubo
que o ligava ao ventilador e pouco depois as suas palavras de esperança: “Hoje
é dia 25, Dia Santo, de Natal, o Nascimento do Menino Jesus; tão bem me sabia,
se me pudessem dar, uma fatia de bolo-rei”.
Pese
a confusão, porque de nada se recordava, a não ser que o dia poderia ser o de
Natal;
A
satisfação de um ser humano, como homem que é, vivo, melhorado de uma situação
em si grave, percebendo que acordou de um sonho que não sabia ter tido;
Comprámos
um Bolo-Rei;
Envolvemos
o leito do doente e saboreámos com prazer a vitória da solidariedade de dois
mundos semelhantes: O sofrimento do doente enquanto doente, superado pela sua
força intrínseca, adjuvada pelo conhecimento médico, como também pela
solidariedade envolvente que prima na esperança de sempre se tentar fazer o
melhor bem possível.
Sem comentários:
Enviar um comentário