domingo, 27 de dezembro de 2015

Os Meus Rascunhos - O Natal É Celebração


Aquela noite estava chuvosa e fazia frio; uma neblina ajudava ao desanimo dos poucos pássaros que se encontravam perdidos, ou porque se esqueceram de emigrar, por distracção, ou porque não foram aceites pelos seus homólogos para uma emigração para terras tão distantes, ou porque a velhice começou a ser sinal de fraqueza mental (têm células semelhantes ao do nosso neocortex)) e porque também a faceta muscular não lhes é perdoada com o passar dos anos.

Fomos ativados através da viatura médica de emergência médica, tendo na altura sido pouco perceptível a razão da pressa, mas em elevada velocidade chegámos ao local indicado.

Na cidade, coloração visível, de luzes díspares e intermitentes;

Estávamos no Dia 24 de Dezembro, em que estaria a acontecer algo, podendo estar a vida de alguém em risco.

Quando chegámos ao destino indicado, percebemos: O desaparecimento de uma pessoa, na altura refletida através dos holofotes, no interior e no fundo de um poço. A estimulação positiva efetuada verbalmente pelo Bombeiros que com a sua competência e solidariedade para com o cidadão comum, tentavam com os seus meios retirar o mesmo do local onde se encontrava.

Tudo foi rápido, pese a indiferença que foram o passar das horas, até alguém ouvir um grito que mais parecia um gemido, mas sendo ou não, vinha de um ponto longínquo, mas que na realidade estava mais perto do que inicialmente se previa.

Apresentava um estado clínico hipotérmico, com dificuldade em respirar, porque os pulmões não toleraram o excesso de água que para eles entrou; foi aquecido, entubado e ligado a um ventilador, tendo logo que possível, sido transferido para um serviço de cuidados intensivos no hospital.

Passaram algumas horas e estávamos já no dia 25 de Dezembro, poucos minutos passavam da meia-noite;

Os madeiros, algures dispersos pela cidade; muita gente envolvente, garrafas meio vazias ou vazias, gente que parecia dançar, meio cambaleante, danças anómalas não estilísticas pelo menos no que diz respeito ao conhecimento que tenho dessa arte.

A felicidade de um sucesso clínico, numa noite fria e desamena, que mais lembrava a vontade de se estar em família, perto de uma lareira, em tertúlia geracional, razão de milhões de portugueses estarem a essa hora no seu ambiente fechado, luzidio e aquecido.

A melhoria progressiva do doente, até que, no dia 31 de Dezembro, se tirou o tubo que o ligava ao ventilador e pouco depois as suas palavras de esperança: “Hoje é dia 25, Dia Santo, de Natal, o Nascimento do Menino Jesus; tão bem me sabia, se me pudessem dar, uma fatia de bolo-rei”.

Pese a confusão, porque de nada se recordava, a não ser que o dia poderia ser o de Natal;

A satisfação de um ser humano, como homem que é, vivo, melhorado de uma situação em si grave, percebendo que acordou de um sonho que não sabia ter tido;

Comprámos um Bolo-Rei;

Envolvemos o leito do doente e saboreámos com prazer a vitória da solidariedade de dois mundos semelhantes: O sofrimento do doente enquanto doente, superado pela sua força intrínseca, adjuvada pelo conhecimento médico, como também pela solidariedade envolvente que prima na esperança de sempre se tentar fazer o melhor bem possível.


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