terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Os Meus Rascunhos - Serviços de Urgência, Profissionais e a Sociedade


Ciclicamente tem-se falado na desvirtualidade do sistema de saúde nas urgências hospitalares, nomeadamente quando vem a público o relato de algum caso real, mas que com o agrément de alguma comunicação social, pela continuidade, levantam exagerada celeuma, de acusações múltiplas, perseguição linguística aos profissionais de saúde, indiscriminação indesculpável, quando o problema se relaciona com o problema de organização, nomeadamente os circuitos internos e externos entre os vários serviços de saúde e não com a qualidade individual e colectiva dos mesmos.

As notícias iniciam-se normalmente com o objetivo de uma investida aos profissionais de saúde, normalmente médicos e enfermeiros, como tem sido o caso tão propagado nos últimos dias, fazendo esquecer ou fazendo por esquecer o verdadeiro cerne das questões que ao longo das dezenas de anos têm permitido o aparecimento de situações graves, com mortalidade negligente ou morbilidade por erro, que de certeza nenhum médico ou enfermeiro desejará que deva acontecer.

Mas mais uma vez, tal como o Governo anterior conseguiu desde 2011 dividir o povo português aplicando, com sucesso, uma “guerrilha” entre trabalhadores privados e funcionários públicos, aproveitam ainda o seu anterior poderio para impor nalguma comunicação social (felizmente poucos), manchetes e artigos sequenciais, duvidosos e escusos, abusivos e indiscriminatórios.

Mas mais grave é o facto de se querer originar atualmente uma Guerra entre Médicos e Enfermeiros, verdadeiros suportes na resposta à doença, que infelizmente já começa a dar algum efeito, entre ambas as áreas profissionais, nos trocadilhos que vão aparecendo nomeadamente nas redes sociais mas que nenhuma das quais merece.

O mediatismo que a classe politica sempre estabeleceu para si própria, desde o 25 de Abril de 1974, não deixa de ser alheia a confusão e mal-estar que se vai verificando ciclicamente, cuja fuga se transmite no ataque aos mais frágeis para dar a imagem que tudo tentaram fazer mas uns “tipos que por aí andam a tentar boicotar…”, na minha óptica o que é imboicotável, por indiferença social, desconhecimento do que é ser colectivo, farsa ilusória, passividade apática e por incompetência de alguma classe politica reinante.

O Povo Português não tem culpa;

Nenhum doente recorre a um serviço de urgência sem justificação, indo ao mesmo, por necessidade de querer resolver um sintoma, ou um problema clínico, que por mais pequeno que seja, de certeza que lhe é incomodativo, senão aí não recorreria, estando a perder o seu tempo se não estivesse doente.

Fala-se de organização dos serviços de urgência hospitalares há dezenas de anos; fazem-se seminários com presença de várias entidades como sejam também a Ordem dos Médicos, como em Setembro do corrente ano sobre constrangimentos e oportunidades dos serviços de saúde com individualidades mediáticas da praça pública, seminários esses que se vão repetindo a cada ano como se de uma Bíblia ou Antigo Testamento se tratasse, porque as sapiências eruditas ficam no esquecimento não passando do culto académico para o mundo prático.

Talvez em vez dos melodramas, seja tempo de definitivamente se definirem as prioridades em termos dos serviços de urgência, seja no sentido organizacional, nas necessidades gerais, na articulação entre as diversas identidades seja intra ou extra-hospitalar, na forma de contactar, comunicar e transportar, ultrapassando as fragilidades e os constrangimentos, com o bom senso e o juízo racional que ainda acredito que possa haver neste país.

Amanhã pode ser um de nós que necessitemos de uma resposta célere, qualitativa e multidisciplinar, para continuarmos a viver sem ou com a mínima morbilidade.

Posso ser eu ou você; então lutemos todos por isso com a convicção, o nexo, a responsabilidade e a certeza das coisas serem definitivamente bem feitas.

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