quarta-feira, 16 de março de 2016

Os Meus Rascunhos - Brasil, o Paraíso Descontente


“O Brasil não é um país para principiantes” frase de Tom Jobim, que resume o Brasil atual, com Lula sob a alçada da Justiça ter sido levado para um lugar de Ministro por Dilma, conseguindo a imunidade judicial de alegado branqueamento de capitais mediante ocultação de património e falsificação de capitais, envolvido em escândalos de corrupção.

Quem não teme não deve;

Brasil é um país com todas a condições para ser dos mais ricos do planeta, mas fica demonstrado por este ato “pensável”, que não se viverá uma democracia na verdadeira essência da realidade, onde grandes interesses se sobrepõem à melhoria das condições de vida da população, onde praticamente não existe uma classe média, nem existem previsões de melhoria, numa economia que neste momento não é sustentável.

O recente Mundial de Futebol já havia demonstrado grandes manifestações de descontentamento num país cujo ordenado mínimo ronda os 135 euros e os bilhetes dos jogos custavam em média cinco vezes esse valor.

E agora, Brasil?

As atenções quer nacional e internacional irão estar centradas, mais uma vez, no comportamento do povo em termos de manifestações, violência e por outro lado, revendo o pensamento durante o mundial de futebol, de aprovação de legislação que eventualmente vise proibir manifestações, equiparando-as a atos de terrorismo ou utilizando outros meios de dissuasão que mantenha a possibilidade dos acusados em sede de tribunal, nomeadamente de prisão, poderem a andar a passear e confortavelmente poderem ser acusados e condenados como qualquer pessoa no mundo democrático a isso está sujeito

Cazuza, cantor, poeta e compositor brasileiro tinha razão quando pediu “Brasil mostra a tua cara” e gritou “que país é esse?”



quarta-feira, 9 de março de 2016

Reflexões de Médico - Eutanásia # 2 Que Se Debata Mas Sem Tanto Ruído



Foi divulgado no Semanário Expresso do dia 6 de Fevereiro um manifesto em defesa da despenalização da morte assistida, tendo sido iniciado um debate nos meios de comunicação social com o intento de ser didáctico, possibilitando à população portuguesa poder compreender e interpretar o desconhecimento de um assunto que a todos diz respeito.

Tem-se verificado infelizmente em detrimento desse mesmo debate, que se deseja real e verdadeiro, informações adversas, algumas sobre a forma de anonimato, outras declaradas, que nada abonam a favor de um debate sério sobre a Eutanásia, nem possibilita a calma necessária para que esse mesmo debate se oriente pelo rumo do conhecimento e da erudição, deixando ao povo português a possibilidade de compreensão e entendimento, possibilitando-lhe ainda ter opinião própria sobre um assunto que de tão importante, deve mover a consciência de cada um.

Essa controvérsia já levou à abertura de inquérito no Ministério Público, na Ordem dos Médicos e Inspecção geral das Actividades em Saúde, situações talvez evitáveis se melhor se atendesse ao significado da terminologia e conceitos tão próprios deste tema.

Eutanásia pode ser sim ou não, mas tem de haver o tacto suficiente para dar estabilidade à discussão que se pretende seja intensa, elucidativa e esclarecedora e na minha óptica pessoal não em referendo, muito menos no habitual sim ou não, que regem, se não todos, a maior parte dos referendos que se têm efectuado.

O que seria deste país se o código penal fosse decidido por sim ou não, como também, por exemplo o código civil?

Voltarei ao assunto posteriormente à medida que o real paradigma vá assentando “arraiais”, em detrimento da atual confusão e direi mesmo “trapalhada”.

Em 14 de Março de 2014 escrevi sobre a Eutanásia no Link (#1) abaixo, mas dois anos passaram e nesse tempo vamos consolidando opiniões e renovando ideias, nomeadamente sobre este tema tão importante para a sociedade em geral.


domingo, 6 de março de 2016

Diário de leitura - O Alentejo e Raposo: Porquê tanta polémica?





Antes do seu lançamento, já o livro “Alentejo prometido”, levantava polémica nos meios sociais, como o Facebook, o Twitter e alguns blogues, tendo-se chegado a situações extremas, nomeadamente com ameaças à integridade física do autor.


De tal maneira “foi o levantamento” que houve um jornalista que fez a comparação com a fatwa contra Salman Rushdie.


Tudo isto encapotado no facto do autor tratar o suicídio no Alentejo Litoral, partindo da sua própria cronologia.


Li o livro ontem (foi lançado a nível nacional há dois dias).


Fico particularmente, como leitor mas também como português, desagradado por se ter levantado tanta polémica, apenas por se pretender levar ao conhecimento profundo o aclarar do Alentejo, neste caso o seu Litoral com as suas histórias antigas, mas que se mantém recentes.

Ou talvez não, quando o autor revela o que sabemos ser uma realidade passada mas ainda presente, infelizmente, ao unir em puzzle a Igreja, as Mulheres, o Suicídio e como afirma “o Complexo Desenraizado”.


As Igrejas “inóspitas no interior” e “feias no exterior” são uma veracidade que se estende pelo país fora quando vemos as mesmas muitas vezes abandonadas, com o interior vazio ou esvaziado, mas por motivos variados; é “crime” haver coragem para desmascarar o mau reinado de quem na Igreja devia ter a obrigação de velar por aquilo que ainda são os monumentos de maior importância neste pequeno país. A Igreja não se preocupou com o analfabetismo, a miséria inerente a esta gente ou a possibilidade de dar meios para a possibilidade de um conhecimento cultural mínimo.


As mulheres; sem dúvida uma atmosfera muçulmana reinante por aquelas bandas; Rentes de Carvalho no seu livro “Ernestina” regressando às suas origens descreve com clareza o fraco papel de intervenção das mulheres na sociedade que no século XX, pouco diferia nalguns aspectos da época medieval; António Lobo Antunes em “Sôbolos Rios Que Vão” aventura-se na descrição da cumplicidade entre o seu próprio pai e uma empregada doméstica na Beira Alta. Henrique Raposo descrevendo a elevada percentagem de filhos ilegítimos dá exemplos de bastardia, indo com coragem ainda mais longe, ao afirmar que “homens da alta sociedade, de Manuel Alegre a Nicolau Breyner iniciavam a vida sexual impondo-se às criadas e trabalhadoras”.


O suicídio, o mais polémico, mas talvez o menos polémico na realidade, pela sua verdade factual, sendo descrito com rigor e precisão tanto geneticamente como socialmente tendo em vista o desinteresse, o desenraizamento, como prática colectiva.


O complexo do desenraizado provavelmente inerente aos temas que se interrelacionam.


Será que todas estas descrições incomodaram tanta gente ao ponto das ameaças veladas terem sido levadas a sério?