sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Aristóteles e a Classe Média em Portugal


Foi com Aristóteles, há cerca de 2300 anos, que pela primeira foi utilizado o termo de classe média no sentido social: Considerou que a estabilidade de um Estado depende dessa mesma classe média, forte, que se interpõe entre as outras duas, os ricos e os que são pobres.

Concluiu Aristóteles ser desejável que a classe média seja “mais numerosa do que cada uma das outras, porque nesse caso ela pode fazer inclinar a balança em favor do grupo a que se juntar e pode impedir que uma das outras duas obtenha uma superioridade decisiva.”

Hoje passados tantos milhares de anos os economistas afirmam o mesmo principio, desde Keynes até recentemente Strauss-Kahn, sublinhando que os estados onde a classe média é significativa são os que têm hipóteses de ter uma melhor gestão dos recursos ao dispor desses países para enfrentar da melhor maneira a crise global do trabalho, nomeadamente através do investimento, produção e consumo.

A classe média em Portugal é mais pobre do que a média europeia. É cumpridora, ordeira, moralista e informada; cumpre a lei, paga os impostos e conforma-se com os erros políticos e governativos, como que sendo uma maioria silenciosa Só é relembrada em altura de eleições quando são procurados para colaborarem em campanhas eleitoralistas, para que se possa dar uma falsa imagem de bem-estar e de equilíbrio do país, como “manobra de diversão” que permita ter o maior número de votos possível.

No entanto é essa classe média que fora desses períodos passa a ser esquecida dos governantes, que impõem regras que ao longo dos anos a vão “lapidando”. Não bastava isso, o actual governo conseguiu fragmentar e segmentar a já fragilizada classe, aplicando medidas orçamentais que para além de punitivas, conseguiu dissociar e desunir os trabalhadores da administração pública dos trabalhadores que laboram nas empresas privadas, numa perspectiva direi insólita de “dividir para reinar”.

Vejo com preocupação e apreensão o excesso dessas medidas governamentais, camufladas com a capa ou cobertura da Troika que têm levado à sucessiva desmotivação do trabalhador português, o que levará a um ainda maior atraso do nosso país relativamente à Europa, com o risco de tomarmos o lugar junto dos países terceiro mundistas.

Equaciono até onde resistirá a classe média ou será que a mesma terá tendência a desaparecer passando a ser apenas mais uma referência simbólica no imaginário colectivo?

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