Estava
vento, ameaçava chuva, a estrada era estreita e encontrava-se esburacada no
percurso, desde que deixámos a estrada principal, à procura de uma pequena
igreja, conhecida pelos peregrinos que nas suas caminhadas para Santiago de
Compostela nela fazem jus à sua condição de forasteiros, fazendo parte da rota
dos românicos.
A
Igreja é a de Telões, pequena aldeia, sendo freguesia do Concelho de Amarante,
embora distante do mundo “real”, arranjada, ordenada e organizada, numa das
saídas da aldeia, que não é saída nenhuma, porque mais estrada não existe.
Exteriormente
com vestígios romanos, apresenta um alpendre que faz a ligação entre a fachada
principal e o campanário.
Mas
como é hábito nos monumentos em Portugal, encontrava-se encerrada porque não
era dia de missa e o padre desloca-se doutra povoação, o que não acontece todos
os dias, porque a sua actividade religiosa não se esgota nesta pequena igreja.
No
entanto, encontrámos próximo um grupo de pessoas de idade que conversavam, mas
que foram por nós interrompidos. Na sequência de boa convivência, apareceu como
que por magia nas mãos de alguém, anónima, umas chaves, antigas, que pareciam
obsoletas mas que rapidamente puseram a descoberto o interior da igreja.
Ouvimos
então a história real de um interior que se tenta manter rico, porque a força
de união das pessoas da aldeia conseguiram preservar, mas com dificuldade, peças
raras e valiosas, que neste momento por outros lados andariam, porque noutras
mãos estariam, fornecendo e abastecendo a carteira de alguns, pois a venda em
“mercado negro” de quadros e outros objectos de grande valor, sejam altares
próprios do culto ou outros, levariam, como levaram noutros locais, ao despejo,
para enriquecimento de alguns, como também ao empobrecimento do nosso
património que já foi vasto, mas vai sendo cada vez mais depauperado.
Também
a discriminação das mulheres, que a religião católica ainda não conseguiu fazer
ultrapassar, foi evidente, com a separação entre os Santos e Santas, os
primeiros expostos no altar e em sua volta e as Santas, com excepção da Maria, guardadas
na sacristia, mais longe da vista do povo, “não fossem elas brigar umas com as
outras”, e “o altar vem abaixo” expressões ditas vivamente de quem nos estava a
levar por uma visita guiada.
Pois
também a moral própria de quem costuma recorrer à igreja, provavelmente por
machismo ou receio de transpor as próprias regras pessoais, pode ser decisão
suficiente para não contrariar aquilo que não quer ver, pois Santos são Santos
enquanto Santas não se percebe muito o valor que podem ter quer na sociedade
quer nas religiões em geral (veja-se também o que se passa no islamismo).
Finalmente
entrámos, noutra localidade, numa loja de artesanato; num local interior, só acessível
aos mais curiosos, deparámos com pequenos altares para venda, assinalados com
preço alcançável para quem tenha carteiras bem recheadas de dinheiro; mas o que
nos chocou foi o facto de percebermos que afinal o nosso património está mesmo
a ser delapidado…Por quem?
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