segunda-feira, 11 de novembro de 2013

A Morte Anunciada


 A Doença Oncológica, o seu percurso entre a vida, a morte e a actualidade:


O homem é um animal sociável, inserido numa sociedade em progresso, ciente de que a vida é finita e limitada, com uma meta final que vai atingir, que é a morte, mas que ignora onde, quando e como; sabe ser um ponto sem retorno para esta vida, embora haja quem a considere como uma fronteira invisível que dá acesso a uma outra vida.

O aumento de esperança de vida, a evolução tecnológica progressiva e o aparecimento de novos fármacos na área da quimioterapia, levou não só ao diagnóstico mais precoce da doença oncológica, possibilitando uma vida mais prolongada, mas também eventualmente um final de vida mais desumana, impiedosa e sem compaixão.

A informação e comunicação entre o doente, a família e os profissionais de saúde continua a não ser prestada de forma correcta, nessa preparação para "uma boa morte", razão pela qual numa altura avançada da doença, já incapacitante, com o doente debilitado ou confuso ou demente, a família mais próxima não tem muitas vezes o conhecimento suficiente de qual a melhor conduta, atitude ou procedimento no sentido de poder minorar o sofrimento e atenuar a dor, seja esta física ou psicológica. 

É a fuga...

Sim, sem alternativa estes doentes acabam por ser levados vezes sem conta aos serviços de urgência, onde se trata a doença aguda, num rodopio de caos, desordem e confusão, sem compaixão nem benevolência, repetindo sem necessidade exames laboratoriais e complementares, tal como sofrendo intervenção de técnicas "agressivas" e repetidas e tratamentos diversos, que nesta fase da vida acabam por ser inadequados e lesivos.

Galeno afirmava ser divino suprimir a dor! 

Essa dor, seja física ou psíquica ou moral, deve ser minimizada e minorada desde o inicio do diagnóstico da doença, devendo todo o profissional de saúde estar preparado para aliviar o sofrimento, ouvir e conversar com o doente e a família, numa atitude de empatia e compaixão, regra de ouro para a preparação futura para uma boa morte do doente e para um bom luto dos familiares mais próximos (luto hoje cuja importância continua a ser totalmente ignorado na sociedade actual...do século XXI, dito tão desenvolvido).

A fase final da vida deve, por tudo isso, ser suavizada através dos Cuidados Paliativos, que com equipas multidisciplinares,  permitem amparar, acarinhar e sustentar essas dificuldades, permitindo também temporalmente a meditação sobre o essencial e o acessório, o efémero e o eterno,  possibilitando então o encontro do doente com a sua própria fé e espiritualidade.

Todos temos em alguma fase da nossa vida um familiar próximo com situação oncológica, que nos leva a meditar mais profundamente sobre a vida, as doenças, os tumores, mas também sobre a inoperacionalidade da saúde no nosso país relativamente ao acompanhamento e orientação nas instituições de saúde, como também à necessidade de formação específica dos profissionais, para que possam acompanhar em equipa o doente e os familiares na sua dor, sofrimento e compaixão.

Se todos temos direito à boa vida, também há direito à boa morte em total dignidade, compostura e também com a esperança "para a continuação da vida ou da outra vida, após esta".

Sem comentários:

Enviar um comentário