Acabei de ler dois livros que tratam temas semelhantes, um mais humorístico “A vida em surdina” de David Lodge e outro mais técnico “Vejo uma voz” de Oliver Sacks.
Ambos focam uma viagem ao mundo da cegueira e da surdez. Acabam por ser um manifesto sobre a capacidade física e psíquica diária do ser humano e a sua adaptação a circunstâncias que a força de vontade, o temperamento, a educação, a resignação, a tolerância, a conformação e a paciência acabam por ser os aspectos válidos que equilibram ou não a atitude psíquica e também física que orientam a postura do dia-a-dia.
Este fim-de-semana foi rico em acontecimentos políticos: O Congresso do partido socialista em Matosinhos, do partido social-democrata da Madeira e a apresentação do cabeça de lista desses mesmos partidos nomeadamente em Lisboa e Porto. Uma das poucas referências nacionais que concorreu nas eleições para a presidência da república sem apoios dos partidos e que conseguiu na altura agregar à sua volta uma “multidão” eleitoral, cansada da tortura diária do fenómeno político que nas últimas décadas foi afundando lentamente este barco denominado Portugal, que tudo detinha para atracar em bom porto, acaba por se saber ser candidato por um dos partidos por Lisboa.
Não está em causa a pessoa em si, mas os métodos utilizados pelos partidos políticos, que mais uma vez demonstram a forma mais simples de se tentar angariar votos neste país, fenómeno mais importante que tentar a resolução dos problemas que cada vez mais afectam a população portuguesa.
Ainda por cima tudo se faz e continua a fazer numa altura de grave crise em que se espreita a bancarrota das nossas finanças e para cúmulo os partidos políticos não se conseguem entender quantos às exigências da Europa (só falta alguém do FMI ou do BCE chegar e impor as sua regras como finalizadas e impostas, o que na minha óptica seria mais uma vergonha nacional).
Por isso mesmo, sem dúvida que a surdez parece ser cómica e a cegueira poderá mesmo vir a ser trágica.
Foi por isso que recordo essas duas obras de literatura recentemente lidas: Um dos livros apresenta momentos hilariantes, principalmente à custa da deficiência auditiva que cria a um professor universitário momentos de grande embaraço, tendo em conta os males entendidos que provoca. Apesar disso tudo é aparentemente muito simples, as personagens não podem ser mais humanas e a escrita é clara e sem floreados, embora de um rigor extraordinário. David Lodge, que sabe descrever as dores mais comuns dos seres humanos, como a solidão, a incompreensão, a velhice, o desespero, consegue também contrapor a esperança, o amor e uma espécie de ternura nada sentimental mas poderosa.
É essa mesma esperança que os portugueses procuram neste momento; a surdez não é cómica, só se for uma farsa, ou um embuste. É isso que estamos acostumados a ouvir no nosso dia-a-dia, mas esperemos com o optimismo que apesar de tudo ainda é apanágio do povo português, que aos poucos se possa subtilmente fazer a viragem necessária, para a democracia absoluta que ainda não temos.
Esta obra ajuda-nos a isso: escrita em tom satírico, permite-nos rir das pessoas, mas de modo a servirmo-nos disso para ver as coisas através de um novo ângulo.
(...)as dores mais comuns dos seres humanos, como a solidão, a incompreensão, a velhice, o desespero, consegue também contrapor a esperança, o amor e uma espécie de ternura nada sentimental mas poderosa...THAT´S IT!...mas, a grande questão permanece...enquanto, seres humanos todos possuímos um projecto de vida. E, para alguns, na actual contigência, encontra-se como castrado...talvez mutilado pela desesperança! Todavia, resta-nos o espectro do CRER num futuro mais radioso. É sem dúvida o optimismo que tão bem nos caracteriza!...
ResponderEliminarMas, David Lodge toca em duas feridas sociais...a velhice e solidão!Será que temos arsenal terapeutico?...