quarta-feira, 20 de abril de 2011

Uma Carta para o FMI deste País Maravilhoso

 Os consultores do FMI, merecem ser recebidos com pompa e circunstância, mostrando-lhes que a educação que desde há séculos o povo português é pautado e comedido, continua pese muitos inconvenientes, a manter.
Portugal é sem dúvida um belo e bonito país à beira mar plantado, com muita coisa que se pode mostrar aos consultores, desde norte a sul, através de um roteiro, que nem necessita de ser estudado, já que tanta coisa agradável e apetecível há para observar e ver, provar e saborear. Só por aí os consultores vão desde logo questionar se o nosso país tem necessidade de integrar a comunidade económica europeia e ter o euro e não o escudo, não fosse a tremenda teimosia de alguns países europeus, como a Alemanha, que tendo ganho biliões com a mudança da moeda dos seus países, querem agora provar que não prestamos para nada.
Levem-nos a passear ao Gerês, se possível a um observatório de lobos e cavalos selvagens; passem por Mirandela para poderem provar a óptima posta mirandesa para atestarem que Portugal tem pastagens que facultam uma carne de vitela e novilho de raça de tão alta qualidade e que mantivemos pese o corte das cotas deste tipo de mercado.
Não se esqueçam de passar pela foz do Douro com a sua linda paisagem ou dar uma volta de cruzeiro no mesmo rio; será o bastante para compreenderem que o norte do país tem condições excepcionais para que o turismo possa singrar. Esqueçam que o excesso de betão das inúmeras auto-estradas por onde vão passar derivou de corrupção, desvios de dinheiro e favorecimentos ilícitos.
E o vinho do Porto ou o verde exportado para todo o mundo, herdades nas mãos de estrangeiros, pelo que a exportação acaba por não ser tão elevada se as mesmas quintas pertencessem na sua maioria a portugueses.
Venham por aí abaixo até à Serra da Estrela e provem o queijo…mas que queijo ou vejam a raça canina do mesmo nome, ou as lagoas e de certeza que vão declarar nos seus relatórios que poucos países são mais ricos que o nosso.
Depois vão até ao litoral, Nazaré, por aí abaixo, não esquecendo Sintra com os pastéis da Piriquita (hum…tão bom) e vejam em Sesimbra os pescadores a não poderem pescar mais que as cotas permitidas pela comunidade, o tão belo peixe que nas nossas águas existe e perdura em excesso sem a possibilidade de extinção, mas também sem possibilidade de ser pescado. Façam uma viagem de avião pela TAP até aos Açores e Madeira e apreciem a sua fruta, as suas paisagens, as suas praias, a sua flora, a vegetação, os picos, os vulcões; esqueçam que são paraísos fiscais, em que a pobreza é extrema, mas a riqueza é enorme, ou seja dar a César o que é de César, ou um Jardim a quem se chame Alberto. 
Também pelo Alentejo, observem herdades abandonadas, devido à proibição parcial do desenvolvimento da agricultura preterida em favor doutros países mais pequenos como a Holanda…deixem-nos lavrar, arar, cultivar e daqui a uns anos quando cá voltarem hão-de ver tudo verdejante, culturas de cereais e legumes em sobra e muitos animais de pasto, suficientes para uma alimentação racional e razoável para a população em geral.
Já nem quero falar da área da restauração, das praias maravilhosas em toda a nossa costa, dos monumentos inesquecíveis que ficam na retina de quem por uma vez na vida olha para eles.
MAS, os consultores também recordam e sabem que muitos subsídios foram dados ao nosso país, para a formação das pessoas, para o progresso da educação, para a organização e desenvolvimento da investigação cientifica, para a modernização da agricultura, das pescas, da indústria, do comércio, do turismo rural, das barragens, do vinho, do leite… Mas esse dinheiro como vós melhor que ninguém saberão perfeitamente, foi aproveitado, não para a expansão da economia global do nosso país, mas para proveito próprio de algumas pessoas, que preferiram construir habitações familiares, nomeadamente segunda e terceira habitação em praias a pensarem no escurecimento e bronzeamento da pele ou em serras para poderem admirar o branco da neve, luxos em grandes viagens para conhecerem esse mundo “nunca dantes descoberto”, aquisição de carros de topo que as nossas estradas esburacadas apenas permitem evidenciar a sua beleza, excesso de construção de auto-estradas sem carros, pontes de qualidade duvidosa, aeroportos sem aviões para aterrar, dinheiro depositado em paraísos fiscais…e por aí fora…
Quando cá vieram a segunda vez deviam ter tido os olhos mais abertos, mas compreendo que ainda não conheciam o nosso clima ameno. Talvez tivessem evitado muitas negociatas financeiras, impedido a traficância efectuada na bolsa da Lisboa, que permitiram que alguns bancos se tivessem enchido de dinheiro (penso que já conhecem a verdadeira história do BPN, factura que os portugueses estão a pagar a peso de ouro), as fraudes nos concursos públicos, o adiamento dos prazos de finalização de obras para que o estado pudesse pagar mais uns “milhõezinhos” de euros, os túneis desnecessários, o número de intermediários para aprovação de projectos dúbios e ambíguos
Aí sim estou à vontade para vos dizer que falharam: Não fizeram bem o trabalho de casa, puseram-se a dormir à sombra de uma bananeira da nossa Madeira ou de um ananaseiro de uma das ilhas dos Açores. Esqueceram-se que sempre existem astutos habilidosos, engenhosos, os chamados popularmente de aldrabões. Esqueceram-se de fiscalizar os subsídios, controlar os gastos, verificar as contas e inspeccionar a execução do produto final.
Acabaram com a siderurgia nacional, com as cotas do nosso leite (talvez as nossas vacas fossem demasiado leiteiras), retiraram o bom que tínhamos, não controlaram o que nos deram ou emprestaram e agora não produzimos nada, temos de importar quase tudo, até submarinos alemães “em segunda mão” (foi por isso que acabaram com a nossa cota naval), e conseguiram também à nossa custa ir enriquecendo a Alemanha, que tanto nos devia agradecer doutros modos pois somos pequenos, mas grandes o suficiente para apoiarmos a destruição de um muro (que há quem chame de Berlim, eu ainda hoje o chamo da morte e assassinato).
Eu sei que vocês sabem senhores consultores, contabilistas e fiscalistas, que vieram do FMI examinar as nossas contas, aclararem as nossas dificuldades e esclarecerem como resolver todos estes problemas que provocaram o deficit que ainda qualquer português de bom senso tem dificuldade em perceber como foi possível. Desculpem as minhas palavras, confessem que sabem que também falharam.
Olhem então para o nosso país doutra forma, para este povo que na sua maioria para além de pacato é ordeiro, pacífico e sociável, é optimista e acredita em si mesmo e nas suas potencialidades, desde que a Europa nos dê paz, concórdia e que passe definitivamente a acreditar e a admitir que afinal o cenário embora seja negro, o povo português é trabalhador e sabe inovar nos momentos difíceis. Facultem-nos essa oportunidade porque a queremos segurar, e desejamos mostrar o que na realidade valemos (desde o período ancestral) porque os portugueses têm talento, são empreendedores, desfrutam de ideias, que vão ser aproveitadas de certeza para mudar a Europa para melhor!
Mas não falhem novamente na fiscalização das contas, porque a culpa passa a ter um dono muito importante…Vocês!

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