domingo, 19 de janeiro de 2014

O Melhor Amigo do Homem e a Morte


Na vida profissional passamos por momentos incógnitos, tal como me acontece também quando faço algum turno na viatura médica de emergência e reanimação, constituída na sua essência por médico e enfermeiro, muitas vezes rumo ao desconhecido quando activados pelo centro de orientação de doentes urgentes, como é norma.

Esse desconhecimento leva-nos por vezes a situações limite, no que diz respeito à sobrevivência do ser humano, nomeadamente quando encontramos doentes com situações de perda de conhecimento, devido a paragem cardiorrespiratória, que infelizmente são mais frequentes do que seria de esperar, no pensamento normal do cidadão comum.

Relembro a história de duas dessas situações em que houve necessidade de reanimar as vitimas, mas pese a ordem e harmonia da equipa, a sua vontade em fazer o melhor possível, o seu querer em pretender reverter o quadro clínico, houve o definitivo desespero por não se conseguir atingir esse desejo final, que seria trazer de novo os corpos para a sua vida terrestre. Há uma altura limite em que se tem de tomar a iniciativa de parar as reanimações, quando se tem o sentido da irreversibilidade de não se poder dar de novo essa vida física a quem já dela se libertou.

Após o sinal objectivo da tristeza de um missão falhada, de imediato ouvi o uivar e o ganir em tom elevado, semelhante ao dos ancestrais lobos, seguido de um ladrar especial, inacabado e mantido de quem recebeu da alma, já separada do corpo-máquina, algo especial e espiritual, que não sabemos o quê, mas que houve uma entidade imaterial que já noutra dimensão conseguiu de certeza transmitir algo de felicidade ao cão, que não ouvimos nem percebemos mas que consideramos ter acontecido.

Em ambas as situações impressionou-me a coincidência...

Nos relatos verídicos de quase morte, entre outras descrições é unânime a presença da flutuação de algo imaterial, como se de uma suspensão no ar se tratasse, que olha para o corpo disforme pela própria reanimação, em que o seu pensamento poderá ser confuso nos poucos minutos que lhe poderão ou não restar, mas que a alma poderá considerar como uma eternidade de incerteza, a espreitar, ou olhar para o corpo que se encontra "lá em baixo", incerteza essa derivada também da incógnita da alma poder usufruir ou não de uma bela viagem, que poderá ser de sonho,  porque ao mesmo tempo que assiste  à agressão terapêutica do seu corpo, sente que do outro lado há quem o chame através de palavras simpáticas e meigas, como um chamariz para um "jardim" desconhecido, mas que parece ser florido, cheio de luzes e de magnetismo.  

Confirmei em ambos os casos, a forte ligação do dono para com esse grande amigo do homem, que é o Cão.

Fiquei inquieto, pensativo, preocupado por não encontrar explicação para ambos os factos.

Lembrei-me de um filme que a minha filha me obrigou um dia a ver, sobre a história do Hachikõ, cão de raça Akita, lembrado pela sua lealdade ao dono que perdurou muito para além da morte deste, que me emocionou, pela fidelidade retratada com tão tamanha grandeza esperando pelo retorno do seu dono durante cerca de dez anos até à sua morte.

Sendo esse mundo materialmente desconhecido, para além do que se vai sabendo sobre física quântica, uma certeza existe, a de que esse  nível de consciência imortal e eterna tem a pura sabedoria para aproveitar a luz que ilumina sem cegar para saber agradecer com gratidão a quem na vida terrestre lhe soube fazer o bem. 


3 comentários:

  1. Eu fui testemunha ... Dá que pensar!

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  2. João Gabriel, a crónica dá que pensar no altruísmo de quem tem por missão socorrer os semelhantes, pelo menos quando a sentem ter de se dar, para salvar uma vida. E que pensar das atitudes que os animais ditos irracionais tomam?
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    Abraço

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  3. Caro Roberto, fomos testemunhas de um facto concreto; dá mesmo que pensar...

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