Os consultores da Troika em obediência aos princípios da Comissão
Europeia Fundo Monetário Internacional e Banco Central Europeu, têm vindo desde
há três anos, de visita periódica ao nosso país, com popa e circunstância, tal
como os meios televisivos e a restante comunicação social têm divulgado (resenha
de abertura dos jornais televisivos ou das capas de jornais). Pese o facto do
fruto do seu trabalho estarem as pessoas cada vez mais tensas, consequência da
desvalorização do euro “português”, menos instruídas por efeito do
desaparecimento gradual da cultura, mais preocupadas com tudo e com nada, não
deixa essa preocupação de ser lógica pela inquietude e pela apreensão que nos
trás a incerteza de um futuro desconhecido.
No entanto o nosso país continua a ter um povo que sendo extraordinário
na sua maneira de receber o estrangeiro, mesmo que se perceba que vem com a
intenção de nos empobrecer ainda mais para além de já sermos dos últimos da
tabela na Europa em quase tudo, continuamos no entanto a ser ricos em passividade
e a enriquecermos a nossa imaginação; somos soberanos na adaptação às
circunstâncias difíceis, sempre com a evidência de um novo sorriso, o sorriso
da compaixão, porque somos bondosos e clementes, razão da adaptação e
acomodação à realidade que estamos a suportar, como se a tolerância em Portugal
fosse um dos mandamentos mais importantes que algum Deus, não sei qual, nos
quis infligir.
Senão vejamos,
Portugal é sem
dúvida um belo e bonito país, com uma beleza inata, digam os variados roteiros
existentes de norte a sul, em que tanta coisa agradável e apetecível há para
observar, ver, provar e saborear. Fizeram-se auto-estradas a preço de “apito
dourado”, numa época em que o auge era apanágio da palavra política e atributo
do facilitismo implementado na mente de todos nós. Essas mesmas auto-estradas,
muitas delas inúteis e vazias da sua verdadeira função, por serem desmesuradas
em distância embora comedidas de betão para poupança nos bolsos milionários,
deixaram de ter o significado que lhes foi atribuído. Vejam-se o número significativo
de automóveis que passaram a aproveitar as estradas secundárias, esburacadas,
de bermas desarranjadas, e cheias de ervas daninhas, que embora com beleza na
primavera escamoteiam espaços que pelo seu perigo possam levar a maior
facilidade de acidentes, que as estatísticas em Portugal se habituaram a
desdizer, como tudo neste país é fácil ser desdito.
Os carros
avariados por essas estradas fora já não se viam; as marcas de maior renome,
tal como os de potência avantajada, deixaram de ser tão visíveis, embora por aí
vão passando alguns Ferrari ou Porches em mãos de maus condutores que nas poças
de chuva se esquecem que os limites das estradas são iguais para todos os que
conduzem, pelo que alguns acabam por ficar com chapa incaracterística para este
tipo de carros tão avantajados.
Culpamos os
consultores, mas estes fizeram o seu trabalho,
As províncias portuguesas
têm coisas lindas; não é necessário ir para o Gerês para se identificarem
bonitas paisagens com paradisíacas quedas de água ou moinhos que os antigos
construíram sabe-se lá em que condição por essas ribeiras fora; houve autarcas
mais prodigiosos de esperteza que aproveitaram os fundos comunitários para construírem
invenções que nem ao diabo lembraria, ou reconstruírem algo a preços de saldo,
de maneira que actualmente muitas dessas construções são antigos oásis envolvidos
por matagais que dificultam o acesso ao cidadão comum o impedem de saborear aquilo
que também foi pago ou continua ser pago com o dinheiro dos seus impostos; qual
desventura se essas invenções foram moeda de troca por meia dúzia de votos para
o sucesso de mais uma reeleição?
Ir ao Algarve
deixou de ser uma necessidade já que praias fluviais nasceram em tudo o que tem
água; se muitas se justificam, nomeadamente no interior, outras que não deviam
ter sido construídas, vieram demonstrar que os consultores têm razão quando
focam a apetência, a propensão e o exagero do português para aproveitar tudo o
que mexe, neste caso o vento a bater na água, dando a imaginar que a mesma
flutua ou que o espelho idealizado do seu fundo que nos ilumina a nossa própria
consciência do tudo querer, mas num país que não tem dinheiro, nem sequer para
manter o respeito daqueles que sendo idosos e reformados, mereciam muito mais
que o nosso respeito, apreço e consideração.
As bicicletas
passaram de novo a ser um veículo fantasioso de transporte das horas vagas,
melhor que o automóvel, possibilitando o conhecimento mais profundo de locais
inéditos e inatingíveis doutra forma, na região em que vivemos; podemos sonhar encontrarmo-nos
em Mirandela a provar um óptima posta de carne que não interessa ser mirandesa,
mas é da nossa zona, que por isso não deixa vir de pastagens que facultam uma
carne de vitela e novilho de raça (ou não) de boa ou má qualidade, pelo que teremos
sempre as cotas necessárias para que a carne continue na ementa do dia-a-dia
que todos prezamos.
E as herdades
por aí espalhadas muitas sendo novos latifundiários, como se o 25 de Abril não
tivesse existido, outras passaram a ser propriedade de estrangeiros, sinal
evidente que cada vez menos pertencemos a uma terra lusitana e nacionalista e
cada vez mais a um emaranhado de culturas, pelo que qualquer dia andaremos a
tentar perceber qual o nosso lugar nesta sociedade que de Camões cada vez fica
mais e apenas o seu nome.
Estamos mais
pobres embora não de coração,
O ordenado
mínimo atinge valores de antes do 25 de Abril de 1974, os ordenados médios
atingem os valores de 1999, o nosso sorriso vai-se tornando esforçado e descolorido,
os consultores sabem isso, mas também sabem que muitos subsídios foram dados ao
nosso país, para a formação das pessoas, para o progresso da educação, para a
organização e desenvolvimento da investigação científica, para a modernização
da agricultura, das pescas, da indústria, do comércio, do turismo rural, das
barragens, do vinho, do leite… Mas esse
dinheiro também que foi aproveitado, não para
a expansão da economia global do nosso país, mas para proveito próprio de
algumas pessoas, que preferiram construir habitações familiares, nomeadamente
segunda e terceira habitação em praias a pensarem no escurecimento e
bronzeamento da pele ou em serras para poderem admirar o branco da neve, luxos
em grandes viagens para conhecerem esse mundo “nunca dantes descoberto”,
aquisição de carros de topo que as nossas estradas esburacadas apenas permitem
evidenciar a sua beleza, excesso de construção de auto-estradas sem carros,
pontes de qualidade duvidosa, aeroportos sem aviões para aterrar, dinheiro
depositado em paraísos fiscais…e por aí fora…
Mas os
Consultores também falharam,
Sabem melhor
que ninguém que a nossa justiça não funciona; grupos organizados impedem cada
vez mais o seu funcionamento, quer pelo tráfico de influências que movimentam, quer
pela instrumentalização da sociedade, mais que óbvia, no sentido de se manter a
corrupção, para proveito dos mesmos, nem que para isso continue a “prodigiosa”
deterioração da sociedade portuguesa.
Nestes três
anos que periodicamente nos têm visitado, em vez de se terem deixado deliciar
com a nossa paisagem, o nosso sol e a nossa comida deviam ter tido os olhos mais abertos, porque muitas
negociatas financeiras podiam ter sido evitadas, impedido a traficância
efectuada na bolsa da Lisboa, que permitiram que alguns bancos se tivessem
enchido de dinheiro, as fraudes nos concursos
públicos, o adiamento dos prazos de finalização de obras, os túneis desnecessários, o
número de intermediários para aprovação de projectos dúbios e ambíguos…
Aí sim estou à
vontade para vos dizer que
falharam
Não fizeram
bem o trabalho de casa, puseram-se a dormir à sombra de uma bananeira da nossa
Madeira ou de um ananaseiro de uma das ilhas dos Açores. Esqueceram-se que
sempre existem astutos habilidosos, engenhosos, os chamados popularmente de
aldrabões. Esqueceram-se de mandar fiscalizar os subsídios, controlar os gastos,
verificar as contas e inspeccionar a execução do produto final, perceber acima
de tudo como funciona a economia paralela no nosso país.
Existimos nós,
mas também existem os nossos filhos, que têm a perspectiva de futuro além-fronteiras
com a visão da emigração,
Olhem então
para o nosso país doutra forma, para este povo que na sua maioria para além de pacato é ordeiro, pacífico e sociável,
é optimista e acredita em si mesmo e nas suas potencialidades, desde que a
Europa nos dê paz, concórdia e que passe definitivamente a acreditar e a
admitir que afinal o cenário embora seja negro, o povo português é trabalhador
e sabe inovar nos momentos difíceis. Facultem-nos essa oportunidade porque a
queremos segurar, e desejamos mostrar o que na realidade valemos (desde o
período ancestral) porque os
portugueses têm talento, são empreendedores, desfrutam de ideias, que
vão ser aproveitadas de certeza para mudar a Europa para melhor!
Mas já é tempo de perceberam que a crise é de todos e não só
de alguns!
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